A inovação é mais do que mudar
o mundo, é uma arte combinatória para os empreendedores criarem o futuro.
Há uma ideia feita de que
Portugal tem falta de espírito empreendedor, o que Belmiro de Azevedo
exemplifica com o facto de que, quando dois antigos colegas de curso se
encontram e falam das carreiras profissionais, a primeira pergunta é: “Onde
estás?” em vez de: “O que fazes?”. Os inquéritos à nossa capacidade
empreendedora também não nos dão boas classificações nos rankings. Mas vejam-se
os factos de outra forma e talvez a conclusão seja diferente.
Segundo um relatório de 2007,
desde os anos 80 que se criam mais de 20 mil empresas por ano em Portugal. Por
outro lado, o sinal de dinamismo da economia norte-americana é dado pelo facto
de 19 das actuais 25 maiores empresas não existirem há quatro décadas. Mas, em
Portugal, apenas oito das 20 maiores empresas em 1988 se mantiveram no ranking
de 2008. Em conclusão, há dinamismo empresarial e espírito empreendedor.
O problema português não está
por isso no número de novas empresas criadas, mas, como refere o relatório
oficial, no facto de a esmagadora maioria das novas empresas ser de “muita
pequena dimensão com baixa intensidade em conhecimento e sem perspectivas de
elevados ritmos de crescimento”. Sendo assim, o nó da questão está em ser um
empreendedorismo de sobrevivência e não de afirmação empresarial. E é destes “criadores
de futuro”, como Schumpeter chamou aos empreendedores, que se precisa, em que à
necessidade de fazer se alia o espírito de inovar.
Uma segunda ideia feita é que a
inovação tem sempre uma componente forte de invenção e tecnologia. A inovação não
existe apenas como fonte de ruptura, de transformação radical de uma tecnologia
ou de um modelo de negócio. Também são importantes as chamadas inovações
incrementais que muitas vezes são de uma simplicidade aterradora. Como diz
Filipe Santos, professor de Empreendedorismo no Insead, “a inovação é um
processo de recombinação. Recombinando ideias e processos oriundos de
diferentes áreas, o inovador consegue desenvolver uma solução mais económica e
eficaz para os problemas dos consumidores. Inovar com base em tecnologias ainda
em desenvolvimento pode ter grande potencial, mas o risco de falhanço é muito
elevado, pois as novas tecnologias normalmente demoram mais de dez anos a permitir
aplicações comerciais. Aliás, as aplicações comerciais mais indicadas para as
novas tecnologias são muito difíceis de prever”.
Os empreendedores devem partir
de um conceito de inovação alargado, que é, aliás, o da Procter & Gamble, e
que inclui não só os produtos, as tecnologias e os serviços, mas também os
modelos de negócio, as cadeias de aprovisionamento, as reduções de custos, além
das inovações disruptivas. Ou até uma mesa... Como se conta na Veja, de 14 de
Outubro de 2009, em 1995 Jeff Bezos empacotava as primeiras encomendas do site
Amazon no chão da cave da sua casa, em Seattle, quando pensou comprar
joelheiras para facilitar o trabalho. Nessa altura, um funcionário teve a
primeira ideia brilhante da empresa ao sugerir que se comprassem mesas! Por
isso, não é tão irrelevante a qualidade da carne e o tipo da batata frita num
hambúrguer, como mostram os empreendedores da H3 Hambúrguer Gourmet, que num
mercado dominado por uma poderosa multinacional conseguiram o seu nicho e a sua
expansão.
Filipe S. Fernandes
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