Muitas vezes as empresas
familiares tornam-se autênticos palcos onde se desenrola o Rei Lear, de
Shakespeare. Uma das teses mais importantes, que no âmbito dos estudos sobre
empresas familiares se cunhou, foi a denominada “lei das três gerações”, ou
seja, as empresas tendem a desaparecer na terceira geração da família. Mas a
mortalidade das empresas familiares, um dos principais vectores do
empreendedorismo, parece ser ainda maior em estruturas que estão longe de ter
essa longevidade. O problema das empresas familiares é que morrem por conflitos
familiares logo na primeira geração. O investigador norte-americano, John Ward mostra
que “65% das empresas, que abrem falência em todo o mundo, quebram, não por
problemas de mercado, mas por conflitos entre os membros da família”.
As organizações familiares
passam por processos de sucessão, de partilha, de disputa de poder que
introduzem elementos de perturbação, e são o lastro para os conflitos, o
caminho sem retorno das divergências irreconciliáveis. É nestas alturas que as
empresas familiares são autênticos palcos em que se actualiza em cena a peça Rei
Lear, de Shakespeare, em que a sucessão dá lugar a episódios de intriga, de
traição, de persuasão, de amor e de ódio. Talvez sejam os momentos em que as
empresas se tornam mais humanas porque tomam consciência da sua finitude. E se
sintam estimuladas a adaptarem-se para sobreviver. Como grande parte das
empresas, desde o pequeno empresário em nome individual até alguns dos maiores
grupos portugueses e estrangeiros, são familiares, este é um problema fulcral
no mundo dos negócios.