A
família Sommer Champalimaud teve ao longo da sua secular história empresarial
vários episódios de guerras familiares provocados tanto pela sucessão como pela
partilha da propriedade. Aliás, o conhecido caso da Herança Sommer está nos
anais da justiça portuguesa pela sua duração e peripécias, pois as primeiras
queixas foram feitas em 1958 e o julgamento terminou em 1973, e entre os seus
episódios está a fuga de António Champalimaud para o México.
Manuel
Champalimaud é filho de António Champalimaud e, nascido em 1946, viveu durante
muitos anos tendo o caso judicial em pano de fundo. Quando em 2004 herdou a sua
parte numa fortuna avaliada em 2 mil milhões de euros, Manuel Champalimaud reuniu
com os filhos e propôs-lhes a opção entre um projecto empresarial comum ou uma
fatia da fortuna. Preferiram a primeira, que tomou forma na Gestmin, que faz a
gestão profissional dos activos da família, como a OZ Energia, participação na
REN, tendo recentemente alienado a posição na Oni. Quatro dos seus nove filhos
estão na administração e nas suas reuniões discussão é livre e “as decisões são
tomadas por consenso” como disse Manuel Champalimaud à Exame.
Para
António Nogueira da Costa, consultor da e-consulting e Escuela de Negocios
Novacaixagalicia, o importante nos processos de sucessão é “planear, preparar,
envolver os potenciais visados, tempo e compromisso no processo de encontrar as
melhores soluções de consenso”. Há exemplos em que esse trabalho está a ser feito.
Francisco
Pinto Balsemão, 76 anos, que em 1973 fundou o Expresso que deu origem ao actual
grupo Impresa, está fazê-lo por fases e procurando o equilíbrio nas duas
dimensões de que se reveste a transferência de gestão e de propriedade. O
primeiro passo foi dado em 2010 quando reuniu os seus cinco filhos numa
holding, a Balseger, que passou a controlar a sua participação de 58,75% da
Impreger, que detém 51,72% na Impresa. O segundo passo, este na gestão, deu-se
em 2012 com a nomeação do quadro superior do grupo, Pedro Norton, como CEO,
mantendo-se Francisco Pinto Balsemão como chairman.
O
destino do império de Américo Amorim, 79 anos, também está em aberto e o
processo de sucessão tem vários andamentos. Em 2001 cedeu o poder e a gestão ao
sobrinho António Rios de Amorim, 46 anos, filho de António Amorim, 77 anos, na
Corticeira Amorim onde tem a maioria do capital, nomeadamente depois de ter
adquirido a participação de Joaquim Amorim, que está em processo de insolvência.
O
empresário, um dos mais ricos de Portugal e presença habitual nas páginas
bilionárias da Forbes, tem uma posição importante na Galp (cabem-lhe 55% dos
38,34% da Amorim Energia), para cuja administração entrou a filha mais velha,
Paula Amorim, e interesses nos sectores financeiro, imobiliário, moda, entre
outros, e em vários espaços geográficos como Brasil, Angola e Moçambique. As
suas outras duas filhas Luísa e Marta Cláudia e o seu grupo deve evoluir para
uma estrutura de family-office.