O case-study português é a sucessão de Belmiro de Azevedo
à frente da Sonae. Se juntarmos a forma como Alexandre Soares dos Santos vai
sair na Jerónimo Martins, parecem duas histórias de encantar no universo
empresarial português, em que tudo acaba bem. A descrição do processo de
sucessão de Belmiro de Azevedo à frente da Sonae mostra um plano tão detalhado,
preciso, minucioso e realista. O primeiro passo para uma sucessão tranquila foi
sendo trabalhado ao longo do tempo, com Belmiro de Azevedo a testar (e a
formar) os seus principais gestores e preparando-os com antecedência para
poderem aspirar à liderança. Como referiu quando a 20 de Março de 2007 anunciou
o seu sucessor, Paulo Azevedo foi uma solução que começou a ser pensada dez
anos antes. Esta poderá ser uma das primeiras lições a retirar desta estratégia
e que é preparar uma equipa de gestão com capacidade de liderança e de
assegurar a sucessão em qualquer circunstância.
Na sua sucessão Belmiro de Azevedo inspirou-se na sua
principal referência na gestão que é Jack Welch. Em 1983 quando este foi
nomeado presidente da GE “todos os vice-presidentes saíram. Ora era isso que
não queria que acontecesse na Sonae” contou Belmiro de Azevedo. Em 2000 quando
Jack Welch escolheu o seu sucessor, Jeffrey Immelt, os outros dois candidatos
saíram da GE. Perfilaram-se para a disputa Ângelo Paupério, Álvaro Portela,
Nuno Jordão e Paulo Azevedo. Segundo Belmiro de Azevedo, o processo consistiu
num questionário feito olhos nos olhos. A primeira pergunta era se queriam ou
podiam ser o número um da Sonae. A segunda era se aceitavam a escolha de um dos
outros três como líder. A terceira era: “se não for você, quem é que escolhe?”.
A escolha foi Paulo Azevedo. Belmiro de Azevedo já fez o que podia fazer, ter
feito a transição do poder para segunda geração. Mas a Sonae vai ter de passar
por um dos testes mais exigentes nas empresas familiares, a partilha entre
herdeiros.
O início do segundo
milénio da Jerónimo Martins foi de grandes dificuldades, tendo de aplicar um
violento plano de reestruturação com venda de activos, a contenção salarial e
operacional e não houve distribuição de dividendos entre 2000 e 2004. Sanada a
crise Alexandre Soares dos Santos lançou a operação sucessão. Em 2004 Luís
Palha, que era o CFO (chief financial officer) desde Junho de 2001, assumiu a
presidência da Comissão Executiva do Grupo Jerónimo Martins, mas o
core-business do negócio da indústria e da distribuição ficaram com os filhos
José Manuel, 51 anos, e Pedro Soares dos Santos, 53 anos, mantendo-se Alexandre
Soares dos Santos como presidente do Conselho de Administração do Grupo
Jerónimo Martins. Era a governação com presidente da família e CEO, gestor
profissional, depois de muitos anos de presidente-executivo da família. Seis
anos depois em Abril de 2010, Pedro Soares dos Santos tornou-se CEO da Jerónimo
Martins substituindo Luís Palha - que está hoje na Galp Energia -, mas como disse então Alexandre Soares dos
Santos: “na prática, a equipa da Jerónimo Martins mantém-se a mesma. Até aqui,
comandei. Agora...”. A família acumulava os dois cargos. E que para o comando
seja mesmo de Pedro Alexandre Soares dos Santos decidiu retirar-se da empresa.
Em setembro deste ano o chairman da empresa anunciou inopinadamente a sua saída
de cena. Tomou a decisão sozinho comunicou-a aos administradores não executivos
e aos 80 membros da família. Vai ser substituído por… Pedro Soares dos Santos,
que se torna presidente-CEO.
Sem comentários:
Enviar um comentário