quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O medo da enfrentar a morte e as sucessões SOS (as sucessões V)

A 10 de novembro de 2009, António Figueiredo, 78 anos, alma mater do ETE, accionista da Transinsular e um dos grupos importantes na área portuária e logística, morreu numa clínica na Suíça onde estava internado depois de um acidente na Sardenha a bordo de um veleiro. Legava aos sete filhos, além dos activos do Grupo ETE, um processo colocado pelo Estado de Angola por causa de acções do Banif que teriam sido pagas mas nunca recebidas.
Os herdeiros saldaram a dívida do pai ao Estado angolano e deram um novo rumo accionista à empresa. Filipa Figueiredo Pacheco de Carvalho e Luís Figueiredo, que eram os dois filhos que estavam mais ligados ao negócio, passaram a ter o controlo do grupo. Neste caso havia uma experiência profissional por parte dos herdeiros e conseguiu-se um consenso entre irmãos.
Mas quando não há experiência profissional de gestão na nos herdeiros e se agregam factores de conflitualidade familiar e o contexto de uma das maiores crises económicas pode falar-se uma tempestade perfeita, como é o caso do Banif.
Quando na manhã de 4 de março de 2010, Horácio Roque foi internado em estado grave depois do AVC, o Grupo Banif, que se movia já nas águas turbulentas da crise financeira, começou a perder o seu timoneiro, que faleceria a 19 de maio de 2010, tinha 69 anos. O processo de partilhas do Grupo Rentipar (principal accionista do Banif), baseado no testamento, deu-se entre as duas filhas (Paula e Teresa Roque), e companheira Paula Marcelo, que ficaria com 52% da Açoreana Seguros, posteriormente vendida ao grupo Banif.
Esta ordem das coisas iria ser perturbada pelas reivindicações litigiosas de Fátima Roque com quem Horácio Roque esteve casado até 1999 e mãe de Paula e Teresa. As irmãs Roque conseguiram, apesar de tudo, dotar o Banif com executivos credíveis como Jorge Tomé, que tem liderado o plano de reestruturação e resgate do banco. Mas a incerteza continua a pairar sobre o grupo.

Para Alexandre Dias da Cunha, professor na Universidade Nova, “as razões que levam um líder de uma empresa familiar a procrastinar o planeamento da sucessão são muitas: desde o típico dilema entre resolver o urgente versus o importante até ao não querer fazer uma escolha entre filhos (afinal não se ama todos de forma igual, como eleger um?), passando pelo óbvio desconforto de encarar a própria morte. Além disso verifica-se, frequentemente, uma autêntica conspiração que envolve não só o próprio líder como aqueles que lhe estão mais chegados: desde o marido/mulher, aos amigos e conselheiros, passando pelos colaboradores de topo e pelos membros da geração seguinte: todos evitam tocar num tema muitas vezes considerado demasiado delicado”. Por isso, muitas vezes as organizações não estão preparadas para o imprevisto, que no entanto, podia ter sido previsto, até porque se sabe que vai acontecer, só se desconhece quando.

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