A
10 de novembro de 2009, António Figueiredo, 78 anos, alma mater do ETE, accionista
da Transinsular e um dos grupos importantes na área portuária e logística,
morreu numa clínica na Suíça onde estava internado depois de um acidente na
Sardenha a bordo de um veleiro. Legava aos sete filhos, além dos activos do
Grupo ETE, um processo colocado pelo Estado de Angola por causa de acções do
Banif que teriam sido pagas mas nunca recebidas.
Os
herdeiros saldaram a dívida do pai ao Estado angolano e deram um novo rumo
accionista à empresa. Filipa Figueiredo Pacheco de Carvalho e Luís Figueiredo,
que eram os dois filhos que estavam mais ligados ao negócio, passaram a ter o
controlo do grupo. Neste caso havia uma experiência profissional por parte dos
herdeiros e conseguiu-se um consenso entre irmãos.
Mas
quando não há experiência profissional de gestão na nos herdeiros e se agregam
factores de conflitualidade familiar e o contexto de uma das maiores crises
económicas pode falar-se uma tempestade perfeita, como é o caso do Banif.
Quando
na manhã de 4 de março de 2010, Horácio Roque foi internado em estado grave
depois do AVC, o Grupo Banif, que se movia já nas águas turbulentas da crise
financeira, começou a perder o seu timoneiro, que faleceria a 19 de maio de
2010, tinha 69 anos. O processo de partilhas do Grupo Rentipar (principal
accionista do Banif), baseado no testamento, deu-se entre as duas filhas (Paula
e Teresa Roque), e companheira Paula Marcelo, que ficaria com 52% da Açoreana
Seguros, posteriormente vendida ao grupo Banif.
Esta
ordem das coisas iria ser perturbada pelas reivindicações litigiosas de Fátima
Roque com quem Horácio Roque esteve casado até 1999 e mãe de Paula e Teresa. As
irmãs Roque conseguiram, apesar de tudo, dotar o Banif com executivos credíveis
como Jorge Tomé, que tem liderado o plano de reestruturação e resgate do banco.
Mas a incerteza continua a pairar sobre o grupo.
Para
Alexandre Dias da Cunha, professor na Universidade Nova, “as razões que levam
um líder de uma empresa familiar a procrastinar o planeamento da sucessão são
muitas: desde o típico dilema entre resolver o urgente versus o importante até ao
não querer fazer uma escolha entre filhos (afinal não se ama todos de forma
igual, como eleger um?), passando pelo óbvio desconforto de encarar a própria
morte. Além disso verifica-se, frequentemente, uma autêntica conspiração que
envolve não só o próprio líder como aqueles que lhe estão mais chegados: desde
o marido/mulher, aos amigos e conselheiros, passando pelos colaboradores de
topo e pelos membros da geração seguinte: todos evitam tocar num tema muitas
vezes considerado demasiado delicado”. Por isso, muitas vezes as organizações
não estão preparadas para o imprevisto, que no entanto, podia ter sido
previsto, até porque se sabe que vai acontecer, só se desconhece quando.
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