Parte
III
Nesta
mundivisão de Vasco Pulido Vantes sobre os empresários portugueses há ainda
dois outros temas recorrentes. Primeiro, a relação dos empresários com o
Estado: “quando as coisas correm bem, os senhores empresários portugueses
protestam persistentemente contra a intrusão do Estado nos seus negócios. Quando
as coisas correm mal – como qualquer operário, “artista” ou funcionário público
– os senhores empresários portugueses pedem ao Estado a sua salvação. Nisto, os
senhores empresários portugueses são mesmo portugueses. Não se limitam a exigências
razoáveis (o alívio da burocracia, a reforma fiscal ou a reforma das leis
laborais), esperam da suposta omnipotência do poder uma intervenção decisiva.
Desde o seu trémulo princípio que o capitalismo português, como nenhum outro na
Europa, viveu da protecção do Estado, de que recebeu privilégios sem fim. Não
vale a pena contar essa longa história em que o PREC foi a excepção e não a regra.
Infelizmente parece que o hábito ficou”.
Em segundo lugar, surge a
inveja, a irritação e a concomitante caça aos políticos, aos ricos e aos
empresários. “Era fatal que o empobrecimento do país (mais rápido do que previa
a ingenuidade do cidadão distraído) provocasse uma ou outra forma de caça às
bruxas das muitas que a cultura indígena costuma produzir. Os políticos
costumam servir de primeiro alvo: porque usam o poder (que se imagina enorme)
em seu próprio benefício e porque exploram e desprezam o povo. Os ricos (mesmo
sem dinheiro) são o segundo alvo, sobretudo se andaram na política, porque se
fizeram fatalmente à custa da pobreza do próximo. E, em versões mais
sofisticadas, também aparece, como terceiro alvo, o horrível empresário
português, que vive da protecção e do favor do Estado, foge do risco e não cria
verdadeira riqueza. Dantes também se perorava muito contra os funcionários
públicos, que hoje, protegidos pelo número, gozam de uma certa imunidade”.
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