O que leva alguém a tornar-se
empresário? E quando já tem uma fortuna?
O que leva alguém a querer ser
empresário? As razões são múltiplas e variadas, mas seria difícil imaginar uma
justificação como a que Rui Nabeiro deu no seu livro, feito em parceria com o
alpinista João Garcia: “Quando resolvi criar a minha empresa, o meu objectivo
era simples: ter uma vida mais descansada. Mas sucedeu o contrário.” As
principais motivações dos empresários e empreendedores são o desejo de criar
riqueza, a vontade de realizar a sua própria ideia e a ambição de ter a sua
própria empresa, como concluía um estudo feito pela Kauffman Foundation of
Entrepreneurship, em julho 2009, com o título A anatomia de um empreendedor, e que é da autoria de Vevik Wadhwa,
Raj Aggarwal, Krisztina Holly e Alex Salkever. Em Portugal, a principal
motivação para alguém se tornar empresário é a “perspectiva de ganhar mais
dinheiro” (47,5%), seguindo-se a realização pessoal (“Desejo de novos desafios”)
com 44,6% e a independência (“Desejo de ser o meu próprio patrão”) com 32,7%,
segundo dados de um estudo do INE apresentado em maio de 2007. A intensidade
desta vontade, ambição e autonomia para realizar e ganhar fazem com que, como
dizia o empreendedor Nélson Quintas, o empresário esteja sempre a desempenhar
as suas funções e “só deixa de ser empresário em dois momentos: quando dorme e
quando morre”.
Mas o que é que leva alguém que
já tem uma fortuna a continuar a investir e a trabalhar? A cobiça e a ganância
podem ser uma explicação, tanta vez repetida com a acentuação dada por Michael
Douglas no filme Wall Street: “A
ganância é boa.” Mas há quem também veja na fortuna uma certa ética de
responsabilidade, como é o caso de Belmiro de Azevedo, para quem “a posse do
dinheiro cria a obrigação de o investir bem, de criar emprego. Eu sinto-me um
feitor, um curador, desse dinheiro. O dinheiro não vai com as pessoas para
nenhum sítio. E, à vezes, até complica, criando problemas de sucessão”. Há
outros casos em que parece surgir o imperativo do trabalho como forma de
realização. Certo dia, o pai de João Macedo Silva, que fundou o grupo RAR que
hoje é detido em 90% pelo filho Nuno Macedo Silva, disse-lhe: “O menino é
suficientemente rico para não precisar de trabalhar, mas se quiser trabalhar
tem de ser a sério.”
Se o lucro é o principal móbil
pessoal e a condição para a sobrevivência para a organização, um dos impulsos
para a obra empresarial é também o apelo da posteridade. Que tem as suas
astúcias. Há ironias na busca da eternidade, na obra que se deixa. Manuel
Boullosa dizia que tudo o que fez, foi para “fazer um nome porque não era
ninguém”. Mas da sua obra faz-se história, mas não sobreviveram muitas empresas
que digam o seu nome no presente. Por sua vez, em 1792, Jerónimo Martins,
galego como Manuel Boullosa, só quis fazer uma boa loja para os seus clientes,
e o seu nome perdura há mais de 200 anos no mundo dos negócios.
Filipe S. Fernandes
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