A Floresta de Sophia de Mello Breyner
Isabel, a protagonista de A Floresta de Sophia de Mello Breyner, encontrou um anãozinho que
fora condenado a guardar as moedas de ouro que um salteador arrependido lhes
deixara para a um homem bom. Há duzentos anos que esperava por isso porque o
que tinha havido, quando se soubera que o malfeitor morrera, fora uma corrida
ao ouro que levou à destruição da floresta. Neste conto, o ouro, o dinheiro, a
riqueza são sempre da cobiça e do excesso. O salteador, à hora da morte
confessa-se aos frades: “os crimes que pratiquei, pratiquei-os todos por amor à
riqueza. Quando eu era pequeno era pobre e corria descalço nas ruas. Comecei
então a invejar a fortuna dos ricos. Invejava os sacos cheios de oiro, os fatos
de veludo, as jóias, as casas opulentas. Decidi ser rico. Durante mais de 20
anos roubei e matei para enriquecer. Parecia-me sempre que não havia oiro que
me pudesse saciar. Quanto mais rico eu era mais amava e desejava o dinheiro”.
Pede então aos frades que para expiação das suas culpas façam do dinheiro uma
obra boa – “Frade, transforma em bem o fruto do mal” como um aviso singular:
“Mas tem cuidado, frade: aquele a quem deres o dinheiro tem de ter uma alma
inteiramente pura pois o dinheiro é um veneno que destrói os espíritos mais
fortes”.
O eleito para resolver o problema do anãozinho é
o professor de música de Isabel, que diz sempre: “a fortuna, a glória, o
dinheiro não contam. Só a verdade e a beleza é que nos dão felicidade”. Este
sugere então que se façam chegar as moedas ao laboratório do Doutor Máximo, um
cientista excêntrico, que queria transformar pedras em ouro para acabar com a
pobreza. Quando se soube, o inventor foi alvo de várias homenagens e glórias. E
como não podia deixar de acontecer aguçou o sentido aos banqueiros e
negociantes que em fila foram falar com o sábio. O primeiro que foi recebido
disse: “caro amigo o oiro é um metal precioso. É o alimento, o sangue e o nervo
das civilizações. É preciso empregá-lo bem. Eu venho ensiná-lo a empregar o seu
oiro. Traga-lhe um negócio magnífico que nos dará a ambos grandes lucros”. O
sábio recusou-se este e todas as outras propostas porque não amava a fortuna “e
podia transformar pedras em oiro”.
Há duas mundividências comuns à literatura
quando se aventura pelos caminhos do dinheiro, da riqueza, do trabalho. O
primeiro é o axioma de quem trabalha não enriquece e que a aqui surge pela voz
de um dos sete mais ricos da cidade: “até aqui os pobres trabalhavam para
ganhar o sustento e os ricos trabalhavam para ficar mais ricos. Mas daqui em
diante ninguém mais há-de querer trabalhar”. A outra é, mais do que a poupança,
a acumulação de capitais sobretudo rápida. Mas neste conto, que é colocado em
questão é precisamente o pé-de-meia. Como refere um dos sete: “quando o oiro
for abundante pouco valerá. E então que será feito de todos aqueles que
passaram a sua vida a fazer economias e que juntaram com tanto amor uma moeda
de oiro ao canto da gaveta? Vamos ficar todos arruinados !”.
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