Em
Portugal, Henry Burnay foi um alvo privilegiado para jornalistas e escritores.
Raul Brandão recorda nas suas Memórias, o projecto de um livro
sonhado por Fialho de Almeida e que nunca chegou a escrever, chamar-se-ia A
Cloaca e “o primeiro capítulo está feito: é uma festa da alta sociedade no
claustro da Batalha... Aproveito a época do Burnay e do marquês da Foz, a luta
da finança, quando o Foz tinha palácios e o Moser carro a duas parelhas.
Deram-se festas esplêndidas... Tenho as figuras todas, homens de negócios e
jornalistas, o Mariano e o Navarro... um dia alugam um comboio e vão dar uma
festa no claustro da Batalha. É uma ceia formidável, com mulheres de grande
roda, políticos, literatos e, dentro do claustro, entre a grandeza e a
severidade daquelas pedras, caem de bêbados e mijam pelos cantos, nos túmulos».
Fialho de Almeida chamou-lhe «pulgão polimórfico» e Eça de Queirós ter-se-á
inspirado em Burnay para a criação do banqueiro Cohen de Os Maias.
Quem não se cansava de
fazer do Conde de Burnay o alvo das suas caricaturas e dos seus dichotes, era
Rafael Bordallo Pinheiro. Nos seus jornais parecia obcecado pelo Grande
Plutocrata, o homem que na imaginação popular, como refere Maria Filomena
Mónica, «transformara-se no capitalista por excelência, judeu na origem,
internacional nos contactos e dissoluto nos costumes». Na edição de A Paródia
de 18 de Dezembro de 1901 retrata-o como um ser longíneo com uma grande mão
direita a segurar o mapa de Portugal, enquanto na esquerda se vê um banco de
madeira onde o banqueiro se preparava para colocar o país, enquanto ao lado
soavam as seguintes estrofes:
Estrangeiro,
banqueiro, onzeneiro, folião,
Tem
Portugal inteiro apertado na mão:
bancos,
províncias, oiro, hotéis, homens, governos,
Querelas,
concessões, coroas, céus, infernos,
Companhias,
jornais, dinheiros fortes, fracos,
Ministros,
imbecis, capelas e tabacos,
Virgens
de Santo António, o mapa, os usurários,
Festas
nacionais, misérias, centenários,
o
clero, a fome, o sangue, o riso... Tudo agarra!
Não
é mão, é tenaz! Não é tenaz, é garra.
Para
se perceber a dimensão do império, socorremo-nos de um texto de Ramalho
Ortigão, comentado por João de Sousa Câmara: “querem dinheiro? Aqui está às
ordens: podem ir passando os recibos”. E ergue, acrescentamos nós, a casa
bancária Henry Burnay & Ca. “Querem fazendas? Aqui têm amostras à escolha”.
Arrenda, adiantamos nós, o Palácio de Cristal e organiza mais tarde os grandes
Armazéns Hermínios. (...) “Desejam navegar, serve-se-lhes navegação a vapor!”.
E logo levantava a Companhia de Navegação Thétis no Porto. “Convém-lhes segurar
alguma coisa, têm aqui companhia que segura tudo!”. E imediatamente criava uma
sociedade de seguros.
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