Juan Roig, fundador e dono da rede de supermercados espanhola Mercadona, cujo modelo de negócio é admirado em todo o mundo costuma dizer que “en Mercadona, la clave del éxito pasa por mantener la mentalidad de tendero”. Mas estes dois portugueses estavam na indústria quando
decidiram derivar para a grande distribuição, o outro nome do comércio. No
início dos anos 90 forma atraídos pela internacionalização e pelo Brasil em
particular com investimentos onerosos em redes de distribuição num país que
falava a mesma língua mas não vive nem pensa da mesma maneira. E neste afã
houve uma certa bulimia. Tentaram-se pelo retalho especializado com uma partir
para Espanha e o outro a engalanar-se com uma marca de topo britânica. E nesta
orgia de negócios um deles apostou na Polónia. Falharam na viagem a imitar
Pedro Álvares Cabral, mas a aposta no Leste europeu, depois de 11 anos a perder
dinheiro e ter dores de cabeça que nenhuma aspirina curava, revelou-se uma
espécie de Euromilhões, com a vantagem de acontecer todos os anos em vez de uma
vez na vida. Sempre erigiram a ética nos negócios como padrão de vida, a
eficiência fiscal como lema de eficácia empresarial e a defesa do bem comum
como causa pessoal. Têm o sonho de ser se tornarem nos Sages da Democracia mas
enquanto um o faz em nome pessoal e anda de conferência em conferência,
discurso em discurso, entrevista em entrevista, o outro rodeou-se uma fundação
e da sua máquina de promoção comunicacional. Já encontraram os herdeiros, Paulo
e Pedro, como os dos apóstolos, que, com pouca diferença no tempo, assumiram os
destinos dos impérios, têm raio de acção mas o olho paterno mantém-se atento e
protector. A anomia do mercado interno levou os seus grupos para novos mercados
em busca de um novo maná. Um aproveitou uma porta amiga em África, o outro,
depois da Polónia, demandou o Pacífico. Um nega-se a investir em Angola por
causa das corrupção, o outro poderia arguir que não foi para a Colômbia pela
nebulosa que envolve os direitos humanos naquela democracia.
Os
merceeiros são Belmiro de Azevedo e Alexandre Soares dos Santos.
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