Nos
seus textos de opinião, o historiador Vasco Pulido Valente utiliza a sua visão
de longo prazo e o conhecimento adquirido por ofício para registar, às vezes,
como se fosse um antropólogo cultural, a visão social, política, histórica,
axiológica e cultural do empresário. Mais do que a sua opinião, estas reflexões
funcionam como um jogo de espelhos. Parte do pressuposto de que no fundo
cultural comum de Portugal predominam ainda os valores de cultura camponesa
pobre: “falido, estagnado e arcaico, Portugal precisa que o levem à força e à
má cara para o mundo real, que os portugueses detestam. Os valores de uma
cultura camponesa pobre, como a nossa, são a segurança e a rotina. Nada mais contrário
ao que nos propõem: a iniciativa, a competição, o risco”. Num outro texto, reforça
e invoca a ausência de uma revolução industrial que assim preservou: “uma
cultura camponesa, ainda hoje visível no típico empresário indígena, ou, por
exemplo, em hábitos quase universais, como o de ignorar o moderno mecanismo
chamado “relógio”.” Por isso não surpreende que “como não temos empresários, ou
os que há são poucos e maus, é difícil que comecem a aparecer grandes quantidades
de empresários bons”.
Filipe S. Fernandes
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