Como assinalou Maria Filomena Mónica, os
industriais (e porque não mesmo incluir os empresários enquanto banqueiros,
comerciantes) são figuras menores na literatura portuguesa. São quase sempre
retratados com feroz ironia, distanciado desprezo ou então, como acontecia com
os neo-realistas, como o símbolo do mal.
O industrial que numa das obras de Eça de
Queiróz, é Teodorico de A Relíquia,
vai trabalhar para uma fábrica de fiação na Pampulha depois de ser expulso de
casa pela tia. Torna-se industrial como castigo pela queda de um anjo que
afinal era um demónio. Em Alves & Ca , o comércio é o
cenário para um enredo de paixão e traição. E Eça conheceu, em casa de Ramalho
Ortigão, o industrial João Burnay, que era o gestor da Empresa Industrial
Portuguesa, e que dizia que o seu único inimigo pessoal era Hegel.
O primeiro romance em que a industrialização é o
pano de fundo foi escrito por Abel Botelho. Em Amanhã surge um patrão da indústria têxtil. O filho dos Carvalho
Meireles faz uma fábrica no jardim do palácio e explora sem uma ponta de
vergonha e de comiseração os seus trabalhadores. Ramalho Ortigão usou As Farpas para demolir os industriais e
os capitalistas. Escreveu em 1876: “nos chefes de indústria, ausência absoluta
de espírito de classe, de amor da profissão. Uma vez enriquecido, o industrial
procura tornar-se capitalista, homem de negócios, influente político,
comendador, visconde, director de bancos, gerente de companhias. E considera a
fábrica um desdouro, uma “mesalliance”, um ganha-pão subalterno, com a vantagem
principal de representar em cada eleição um peso de duzentos votos, a troco dos
quais ele procura colocar-se sob a protecção do Estado e sob o favor dos
governos”.
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