Mesmo que haja um só caminho, há sempre várias formas de preparar a
caminhada e de o percorrer.
A história é antiga, tornou-se um exemplo canónico para inúmeros teóricos
e práticos da gestão, o últimos dos quais Jim Collins e Morten T. Hansen em
Great by Choice, e conta-se em dois parágrafos. Há cerca de 101 anos, duas
equipas, uma liderada por Roald Amudsen e outra por Robert Scott, partiram à
conquista do Polo Sul. O primeiro cumpriu o objectivo e regressou para contar
enquanto o segundo sucumbiu na sua empreitada. A moral é que para um objectivo
pode haver vários caminhos, formas diferentes de agir, motivar, planear, e
que afinal até pode haver alternativas. Por isso talvez fosse uma boa altura
para trocar umas ideias sobre gestão, como parece ser a intenção de Teodora
Cardoso, presidente do Conselho de Finanças Públicas, quando disse: "É
essencial gerir melhor." Por isso, talvez seja importante que no meio
deste vendaval fiscal e da cacofonia europeia que se fale sobre a gestão em
Portugal.
Fernando Pessoa, que podemos considerar como o primeiro teórico de gestão
português, reflectiu, e com alguma minúcia, sobre os preceitos práticos da
boa gestão e da excelência empresarial, e o cerne da sua preocupação era a
organização, o que não deixa de ser interessante porque é hoje provavelmente
uma das principais causas para as nossas dificuldades, a tão decantada
competitividade do país. Para Fernando Pessoa a organização era mais do que
um processo tecnológico e um conjunto de procedimentos. A sua visão estava
próxima do que hoje chamamos gestão. Dizia que “a organização é, por sua
natureza, um fenómeno intelectual, um trabalho de inteligência”.
Noutros textos, alguns dos quais publicados na Revista de Comércio e Contabilidade, dizia que “organizar é,
essencialmente, um fenómeno intelectual. Há muitas coisas que se executam por
palpite, imensas que se fazem empiricamente, pelo hábito e a experiência. Mas
a organização estável, ou seja a organização propriamente dita, é um trabalho
de inteligência”. No texto Processo de
Organização escreveu que "sistemas, processos, móveis, máquinas,
aparelhos são - como todas as coisas mecânicas e materiais - elementos
puramente auxiliares. O verdadeiro processo é pensar; a máquina fundamental é
a inteligência." Se alguma lição de actualidade se pode retirar destes
textos de Fernando Pessoa é a sua insistência na inteligência (que é
educação, que é formação, que é discernimento, que é ciência, que é subir na
cadeia de valor, que é gestão e organização) como principal recurso
estratégico para o nosso desenvolvimento.
Filipe S. Fernandes
Os textos citados encontram-se em Filipe S. Fernandes, “Organizem-se! A Gestão Segundo Fernando Pessoa”, Oficina do Livro, Lisboa, 2007. |
sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
É essencial gerir
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