O elogio e o enaltecimento do
esforço escondem muitas vezes a falta de planeamento, inteligência e bom senso, é a principal lição das expedições de Roald Amundsen e Robert Falcon Scott ao Polo Sul em 1912.
A conquista do Polo Sul foi,
depois de alguns fracassos, disputada por duas expedições rivais, comandadas,
respectivamente, pelo norueguês, Roald Amundsen, e pelo inglês Robert Falcon
Scott, que partiram em outubro de 1911, separados por apenas duas semanas.
Roald Amudsen e a sua equipa atingiram o Polo Sul a 14 de dezembro de 1911 e
regressaram sãos e salvos; o grupo liderado por Robert F. Scott chegou a 17 de
janeiro de 1912 ao ponto onde ondulava a bandeira norueguesa e estava uma carta de
Roald Amudsen. No regresso os expedicionários sucumbiram à fome, ao frio extremo e à exaustão. Os
corpos foram encontrados oito meses depois por uma equipa de resgate.
Entre os despojos estavam os
diários de Robert F. Scott, cuja publicação foi a primeira pedra para
a hagiografia deste herói moderno. Narravam-se gestos de grande coragem e abnegação.
Um dos membros do grupo, que se sentiu sem forças e como um peso morto na equipa,
abandonou a tenda dizendo: “Vou sair e sou capaz de demorar”, e foi morrer para
longe. Robert F. Scott escrevera na última entrada do seu diário: “Enviem este
diário à minha esposa”, e depois rasurou substituindo por “minha viúva”.
A expedição de Robert F. Scott
parecia conter todos os ingredientes para uma saga em que se exaltasse a luta
contra tudo e contra todos, a resistência, a coragem, o esforço, a superação de
obstáculos até à morte. Para a história, numa espécie de vitória póstuma,
acabou por ficar a epopeia dramática de Scott feita de biografias, livros de
viagens, filmes, estátuas e homenagens várias.
O tempo fez o seu trabalho de
depuração e enxugou os excessos. Começou-se a questionar o estilo de liderança
de Robert F. Scott, a qualidade das suas decisões, as práticas que valorizavam
o esforço em vez da preparação, o sacrifício em vez da simplicidade. Como escreveu
o rival Roald Amundsen, “a aventura é o outro nome para a falta de planeamento”.
O sucesso de Roald Amundsen
baseou-se num estudo do terreno (estudou a região durante oito meses), na
experiência (já tinha passado um inverno na Antárctica e participado de
excursões ao Ártico), no conhecimento (sabia que cães esquimós eram mais
adequados do que os póneis escolhidos por Robert F. Scott para puxar os
trenós), no equipamento (sacos de dormir forrados com peles grossas, uma cabana
semipronta e várias tendas impermeáveis), no planeamento (fez várias incursões,
até 85 graus de latitude, em que depositou reservas de comida).
Nas suas anotações, Robert F.
Scott culpou, sobretudo, o mau tempo pelo fracasso. Mas como Roald Amundsen
anotou “a vitória espera por aquele que tem tudo em ordem, é o que se chama
sorte. A derrota é certa para aquele que falhou ao tomar as devidas precauções,
é o que se chama azar”. Do ponto de vista de gestão, o exemplo de boa prática é
a expedição de Roald Amundsen porque chegou primeiro, foi eficaz, fê-lo com
facilidade, foi eficiente. Fez o seu trabalho bem feito.
Filipe S. Fernandes
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