sábado, 29 de dezembro de 2012

Os empresários vistos pelos escritores I


O ponto de partida em Llansol e Garrett


Quando Urbano Tavares Rodrigues escreveu O Adeus À Brisa não está a referir-se obviamente às performances da empresa concessionária de auto-estradas, cujo acrónimo Brisa pertence mais ao fundador da empresa, Jorge de Brito, do que a qualquer romance ou fluxo de ar ameno. Mas quando se escreve: “já reparou na afinidade entre estragos e estrategos?”, como o faz Maria Gabriela Llansol em O Senhor dos Herbais podemos estar a falar de vários mundos desde o militar até ao dos negócios.

Ao longo deste tempo, enquanto instigadores da actividade produtiva, têm sido retratados, pelos escritores por exemplo, um pouco ao modo como os Gregos viam o comércio. Este era apenas ganância e, portanto, uma actividade desprovida de Sentido. O distanciamento com que este universo da vida é apreendido radica em algumas das suas leis, regras e máximas. Como refere a filósofa Hanna Arendt, “no domínio comercial a divisa ““negócios são negócios” já contém em si mesma a desonestidade do especulador sem escrúpulos”.

O dinheiro sempre foi visto com ambivalência. O poeta e dramaturgo Almeida Garrett em As Viagens na Minha Terra perguntava “Quantas almas é preciso dar ao diabo e quantos corpos se têm de entregar no cemitério para fazer um rico neste mundo” “Andai, ganha-pães, andai; reduzi tudo a cifras, todas as considerações deste mundo a equações de interesse corporal, comprai, vendei, agiotai. No fim de tudo isto, o que lucrou a espécie humana? Que há mais umas poucas dúzias de homens ricos. E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar a miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico?” “cada homem rico, abastado, custa centos de infelizes, de miseráveis” e Camilo Castelo Branco, em Onde está a felicidade?, respondia que a felicidade estava “debaixo de uma tábua onde se encontram cento e cinquenta contos de réis”. O que poderia ter sido mais uma frase para a campanha do finado e falido Banco Privado. Ou então sugerem-se os versos de João de Deus, em Campo de Flores: “O dinheiro é tão bonito,/tão bonito, o maganão!/Tem tanta graça, o maldito,/Tem tanto chiste, o ladrão!/O falar, fala de um modo.../ Todo ele, aquele todo.../E elas acham-no tão guapo!/Velhinha ou moça que veja, / Por mais esquiva que seja,/Tlim!/ Papo”.
Filipe S. Fernandes

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