sexta-feira, 28 de junho de 2013

“A cultura do curto prazo é a principal limitação para o sucesso”

Luís Portela, 63 anos, é, desde Janeiro de 2011, chairman da Bial, tendo passado as funções executivas para o filho, António Portela. Médico acabou por no fim dos anos 70 assumir a direcção da Bial, fundada pelo avô em 1927, e transformá-la numa farmacêutica com capacidade de fazer I&D tendo recentemente lançado o antiepiléptico Zebinix.


Uma das soluções para o equilíbrio económico-financeiro de Portugal passa pelo aumento das exportações, ou seja, pelas empresas. Considera que estas têm feito o sue papel?
O aumento das exportações de bens e serviços é muito importante para sustentar uma estratégia de crescimento para o país. Alguns sinais encorajadores têm vindo a público, tanto pelo ritmo de crescimento, como pela diversificação dos destinos, como pelo aumento, ainda que ligeiro, do conteúdo tecnológico das exportações.
O papel das empresas neste domínio é fulcral e tem havido uma clara reorientação da prioridade de algumas para a diversificação dos destinos dos seus produtos, de modo a minorar os efeitos dum menor dinamismo da procura interna e dos principais mercados de destino na Europa.
Esta aposta na internacionalização das empresas, incorporando maior valor nos produtos e serviços, é um caminho longo, com escolhos e dificuldades, mas absolutamente decisivo para um novo percurso desenvolvimentista para o  nosso país, pelo que tem de ser muito reforçada.
Mas, é um caminho que deve mobilizar o conjunto da sociedade, sendo um objectivo das empresas, que deve ser apoiado pelas universidades e pelos centros de investigação, bem como pela administração pública e pela diplomacia económica.

Quais são, no seu entender, as principais características comuns às melhores empresas portuguesas?
A cultura do curto prazo, de objectivos imediatos, é a principal limitação da acção para um percurso de sucesso. Vemos isso em todos os domínios da sociedade, do desporto aos negócios e às políticas públicas. Em contraponto, as empresas que melhor desenham uma visão de longo prazo, são aquelas que de forma mais consistente têm ganho capacidade competitiva, num mundo cada vez mais concorrencial.

Quais são os maiores obstáculos que se colocam à competitividade das empresas portuguesas?
Construir uma economia competitiva é um caminho sem fim. Num mundo concorrencial, as vantagens adquiridas podem ser perdidas a todo o momento, assim como as desvantagens podem ser superadas pela concretização dum projecto consistente.
Este desafio de superação permanente exige do lado das empresas e das lideranças atenção e dedicação, paixão e perseverança. Inovação e internacionalização são duas variáveis chave nas estratégias competitivas. Qualidade e mobilização dos recursos humanos, num ambiente estimulante à criatividade, mas rigoroso no desempenho individual, são outros desafios para a gestão empresarial.
Mas, também importa ter do lado do Estado regras claras, eficiência na acção, rapidez nas decisões, estimulo à inovação, ao conhecimento e ao espírito empreendedor, prioridade àqueles que concretizam boas práticas e respondem aos desafios e problemas com que a sociedade se confronta.


Com base na entrevista publicada no Jornal de Negócios de 4 de junho de 2013 e que também pode ser lida no site:

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