quarta-feira, 24 de julho de 2013

Super-gestores e o trabalho como desporto radical


O papel da liderança ganha especial intensidade em tempos de crise aguda como a que vivemos. Quando se vive numa funda recessão, em que predomina a agitação e o nervosismo, o líder tem de ser mais um factor de calma e de resiliência, confiança e tranquilidade. Como sublinha Miguel Pina e Cunha, professor na Nova School of Business & Economics, “há um ditado inglês, que diz que ‘as boas marés nunca fizeram os bons marinheiros’. Ser um líder competente numa altura em que tudo é favorável não é tão exigente como liderar quando tudo está correr mal”. Nos tempos em que vivemos também se espera que as lideranças protejam as suas equipas. Devem ser exigentes mas “uma função crítica da liderança neste momento é garantir segurança para as pessoas se focarem na resolução dos problemas e não na gestão do seu próprio stress” acentua Miguel Pina e Cunha.
O modelo exemplar do gestor e empresário mudou muito. O presidente da Jerónimo Martins, Alexandre Soares dos Santos dizia recentemente que o que hoje se exige a um gestor não é comparável ao que se pedia há 25 anos. Assinalava o patrão da Jerónimo Martins que hoje “um quadro sénior tem de trabalhar sete dias por semana, ter sempre o telemóvel ligado e se houver um problema tem de se meter num avião. A globalização implica ir a todos os lados do globo, a sítios onde os turistas não põem os pés, para comprar os melhores produtos”. O artigo “Extreme Jobs: The Dangerous Allure of the 70-Hour Workweek”, publicado pela Harvard Business Review em 2007, referia que muitos gestores estavam a trabalhar mais de 70 horas por semana. Para Miguel Pina e Cunha isto é equiparar o trabalho a um desporto radical. Explica que isto acontece porque “os gestores de topo não podem deixar de dar o exemplo do que querem que aconteça”.
Esta preocupação por figuras a serem emuladas e admiradas nºao acaba na procura de super-gestores e de heróis? Para Miguel Pina e Cunha, os super-gestores são um mito mas é um facto de “todos nós precisamos de heróis…”. Confessa que “o CEO herói só existe porque tem uma equipa que lhe permite ser um herói; no limite há uma falácia da liderança quando põe o ênfase no líder, quando a liderança é um trabalho de equipa”. Na sua opinião, “o que os bons líderes fazem é menos assumir o papel de herói e criar condições para que todos sejam pequenos heróis no seu trabalho. E isso é um papel que que só os líderes podem fazer”.

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