O papel da liderança ganha especial intensidade em
tempos de crise aguda como a que vivemos. Quando se vive numa funda recessão,
em que predomina a agitação e o nervosismo, o líder tem de ser mais um factor
de calma e de resiliência, confiança e tranquilidade. Como sublinha Miguel Pina
e Cunha, professor na Nova School of Business & Economics, “há um ditado inglês, que diz que ‘as boas marés nunca fizeram os bons
marinheiros’. Ser um líder competente numa altura em que tudo é favorável não é
tão exigente como liderar quando tudo está correr mal”. Nos tempos em que
vivemos também se espera que as lideranças protejam as suas equipas. Devem ser
exigentes mas “uma função crítica da liderança neste momento é garantir
segurança para as pessoas se focarem na resolução dos problemas e não na gestão
do seu próprio stress” acentua Miguel Pina e Cunha.
O modelo exemplar do gestor e empresário mudou muito.
O presidente da Jerónimo Martins, Alexandre Soares dos Santos dizia
recentemente que o que hoje se exige a um gestor não é comparável ao que se pedia
há 25 anos. Assinalava o patrão da Jerónimo Martins que hoje “um quadro sénior
tem de trabalhar sete dias por semana, ter sempre o telemóvel ligado e se
houver um problema tem de se meter num avião. A globalização implica ir a todos
os lados do globo, a sítios onde os turistas não põem os pés, para comprar os
melhores produtos”. O artigo “Extreme
Jobs: The Dangerous Allure of the 70-Hour Workweek”, publicado pela Harvard Business Review em 2007, referia
que muitos gestores estavam a trabalhar mais de 70 horas por semana. Para
Miguel Pina e Cunha isto é equiparar o trabalho a um desporto radical. Explica que
isto acontece porque “os gestores de topo não podem deixar de dar o exemplo do
que querem que aconteça”.
Esta
preocupação por figuras a serem emuladas e admiradas nºao acaba
na procura de super-gestores e de heróis? Para Miguel Pina e Cunha, os super-gestores são um mito mas é
um facto de “todos nós precisamos de heróis…”. Confessa que “o CEO herói só
existe porque tem uma equipa que lhe permite ser um herói; no limite há uma
falácia da liderança quando põe o ênfase no líder, quando a liderança é um
trabalho de equipa”. Na sua opinião, “o que os bons líderes fazem é menos
assumir o papel de herói e criar condições para que todos sejam pequenos heróis
no seu trabalho. E isso é um papel que que só os líderes podem fazer”.
Sem comentários:
Enviar um comentário