terça-feira, 2 de julho de 2013

10 ideias de gestão de Adolfo Roque (Revigrés)

1 Gestão e relações pessoais
“Porque não eram bem geridas, do meu ponto de vista. E depois as relações pessoais também interferem, e nem sempre se tomam as decisões adequadas, face aos constrangimentos pessoais. A empresa de construção ainda fez uma das torres do Restelo, mas quando estávamos a pensar vender acções para financiar a construção de apartamentos de luxo, rebentou o 25 de Abril e os títulos foram congelados. Nós, que pagávamos tudo a pronto, não tivemos quem nos emprestasse dinheiro. A seguir surgiu a hipótese da Revigrés”.

2 Vendas
“Numa segunda fase, veio a preocupação virada para as vendas. Embora esta nunca fosse muito forte, na medida que tivemos a felicidade de termos todos os produtos vendidos com uma lista de espera da ordem dos 3 meses, durante anos. O nosso produto, embora muito modesto face aos padrões de hoje, era o melhor que se fazia em Portugal. Logo aí começámos a criar nome, pela seriedade na forma de negociar. Eu sempre disse que “antes perder dinheiro a perder confiança, porque a confiança uma vez perdida dificilmente se recupera, e o dinheiro pode vir a recuperar-se”. Assim conseguimos criar uma grande fidelização nos clientes. Tive também uma grande preocupação em arranjar quadros de qualidade, porque não era fácil”.

3 Recursos humanos
No caso dos quadros superiores, sim. No caso dos quadros intermédios a selecção era feita através de empresas de recursos humanos e, na fase final, era feita por quadros meus. Os recursos humanos são fundamentais numa empresa. Havia um empresário norte-americano que dizia “que o único mérito que tive foi escolher para meus colaboradores homens mais inteligentes do que eu”. Isso é uma filosofia de gestão”.
“É sim. Pela experiência que tenho isso é fundamental. Costumo dizer que os bons recursos humanos são sempre baratos. Os fracos, às vezes, até de borla são caros. Os fracos estragam, os bons produzem”

4 Quadros de confiança
“Encontrar bons quadros não é tarefa fácil. E erra-se muitas vezes. E quando se erra é dramático. As coisas não andam com a fluidez com que deveriam andar. Muitas vezes cedi em ordenados, e pensei que tinha oferecido demais, mas depois verificava-se que valia a pena. Eu confio nas pessoas, e quando isso acontece, as coisas gerem-se bem, sem necessitar tanto da minha presença. Quando perdem a minha confiança, as coisas tornam-se difíceis”.

5 Indústria
“Senti-me feliz na indústria, a produzir. Tive sempre muitas visitas ministeriais, presidentes das República e de primeiros-ministros, indicadores do reconhecimento por parte das entidades oficiais do trabalho que foi desenvolvido na empresa”.

6 Máxima de vida como gestor
“Um empresário deve ler, ver e ouvir. Se não ler rapidamente se desactualiza. Se não vir, dificilmente interioriza o que lê. E é preciso ouvir porque muitas vezes, quando estamos direccionados para determinado problema, não há nada como ouvir as outras pessoas, auscultá-las no seu ponto de vista. Esta interacção é determinante. E tenho outra, que me foi transmitida pelo meu mestre, Professor Farinas de Almeida: “Ouvir todos e decidir sozinho”.

7 Sucessão e a reforma
“Considero que as pessoas vão melhorando com a idade em conhecimento, mas vão perdendo em energia e em capacidade de realização. Entendo também que essa energia se vá perdendo lentamente sem nos apercebermos disso. E há que ter a lucidez suficiente para perceber isso e abandonar a tempo, porque senão arrasta consigo as coisas que realizou. Segundo um economista americano que li há tempos, as pessoas deveriam começar a ganhar menos a partir de uma certa idade, porque produzem menos. E nós estamos numa economia competitiva, em que deveríamos ganhar por aquilo que produzimos. Embora, devesse haver uma compensação da parte do Estado. Era uma espécie de reforma progressiva, porque obrigar as pessoas a trabalhar até aos 70 anos, com ordenados elevados, é estar a prejudicar as empresas e a economia. Por isso penso que é necessário chegar a uma certa altura e cortar, dar uma nova vida à empresa. O ideal é contribuir com a sua experiência e não com a sua actividade, com o seu conselho e não com a sua acção”.

8 Erros
“Sou bastante intolerante com a falta de honestidade. Não gosto que se repitam erros. Zango-me terrivelmente”.

9 Decisão
“Nunca decidi sozinho, ouvia sempre os colaboradores. E tentei ir sempre de encontro à opinião deles. Porque é melhor seguir uma ideia menos boa de alguém que tem de a executar, do que seguir uma ideia extraordinária, em que os outros não acreditam”. “O arrependimento nunca fez parte do meu código de conduta. Está feito, está feito, e tenho de assumir as responsabilidades.

10 Qualidades de empresário
“Ter jeito para a matemática foi muito importante. Olhar para certas contas e ver com facilidade que não podiam estar certas, ajudou muito. Outra qualidade é o meu desejo de actualização permanente”.

Adolfo Roque nasceu em 1934. Fez a licenciatura em Engenharia de Minas, na Universidade do Porto. Passou pela Companhia de Diamantes de Angola, Dyrup, e em 1977 fundou a Revigrés com mais 11 sócios. Faleceu no dia 22 de Setembro de 2008.
Baseado no texto de Helena C. Peralta, O senhor Revigrés, Exame, dez 2008


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