Quando se falha, a
questão principal não devia ser encontrar-se o culpado, porque, como é tão
frequente, perde-se mais tempo no exercício e no exorcismo da culpa que
raramente se chega aos culpados. Portanto, até por razões de eficiência, se
devia abandonar a atitude e a necessidade de discutir a culpa e de encontrar os
culpados. Discuta-se o erro e a solução para o abolir. Note-se que a retórica fala sempre em encontrar os culpados (por
exemplo, um incendiário por acidente ou
“motu” próprio), mas, quando se trata, da burocracia governamental e
adjacências diz-se “apurar responsabilidades”.
Mas há mais razões para
se deixar de procurar culpados ou fazer inquéritos para se disseminar a
irresponsabilidade por tantos que é impossível perceber alguma coisa. Até porque a esta evidência se junta uma
justificação que julgo razoável. Não é a culpa nem a sua expiação que remedeiam o erro,
que muitas vezes não tem remédio, e nem sempre a culpa se resolve com uma
desculpa. Depois com estas tergiversações nunca se desenvolve a cultura do
“zero erro” e “do fazer bem à primeira”. Estas consignas são velhos provérbios
oriundos da gestão de qualidade japonesa. Poder-se-à alegar que os “slogans”
são velhos, antigos, mas as boas práticas são de sempre. Desde que funcionem devem manter-se.
Quando se percebe o
fracasso, está-se pronto para começar de novo. Quando se tem a culpa, vive-se
com um peso do passado. No primeiro vive-se num horizonte de responsabilidade
individual e colectiva. No segundo entra-se no reino do arbítrio pessoal.
Em períodos de menor
auto-estima surgem os arautos da denominada pedagogia do êxito, uma adaptação
de um tipo de didáctica à psicologia colectiva nacional. Sem querer fazer
doutrina parece-me que entre os problemas ou as principais dificuldades portuguesas seja
lidar com o sucesso e com o êxito. Muito pelo contrário, creio que a nossa
grande questão é não saber gerir o fracasso. Isto são sintomas que explicam
muita da falta de espírito de iniciativa, de uma certa inacção à espera de
perceber o rumo e os caminhos que se fazem, de quem só quer agir com a quase
certeza de que vai ganhar. Ora, para se alterar esta situação não se deve fazer
nem dar hossanas ao sucesso mas fazer o elogio de quem falha. Por que é a lei
das probabilidades: quem toma muitas decisões, quem faz muitas coisas, tem
taxas de insucessos superiores a quem nada faz.
É o medo do insucesso
que explica muito do que se passa em torno de das falências de empresas e de
projectos, e que obviamente cria uma espécie de “abutres” especializados em
tirar todas as vantagens destes processos, que se fossem mais céleres e menos penalizantes
socialmente. Estamos longe das famílias, que como dizia José Cardoso Pires em O Delfim, punham luto sempre que havia
uma falência, mas é ainda é muito complicado, socialmente, ver-se numa falência
um simples insucesso. Se for fraudulenta, é crime. E isso é um outro assunto.
Estamos muito longe do herói de Cosmopólis
de Don Delillo, em que “a extensão lógica dos negócios é o assassinato”.
Em resumo, não concordo. Os culpados devem ser encontrados por essa culpabilização fazer parte do processo de análise e investigação.A culpabilização é o que permite a sociedade mudar de atitude de forma sustentada, estruturada. Se assim não acontecer, os que querem diferente e melhor, terão sempre que perder tempo a contrapor os que se escondem por detrás dos culpados, (que nunca são culpados). É uma guerra inglória. Os culpados ganham sempre ??!!
ResponderEliminarAssunto muito diferente é a crítica ao insucesso. E aqui prefiro analisar isto em dois tempos diferentes ou distantes. Quando se critica, logo a seguir ao insucesso, isso fará parte da celebração da vitória e terá uma certa componente sociológica. Quando se critica, muito depois de ter acontecido, parecerá mais cobarde, mas tem mais possibilidades de ser uma crítica menos emotiva, ou seja mais neutra. No entanto, em qualquer dos casos, criticar o insucesso é positivo. Afinal é um insucesso ! Tal como criticar os culpados. Parecem-me atitudes saudáveis e de aplaudir. Compreendo, por outro lado que existem profissionais da crítica, assim como existem pessoas que vão a funerais a chorar por outras pessoas. É uma profissão como outra qualquer. Como por exemplo, Historiadores, Jornalistas, Economistas ou médicos Legistas.
A atitude perante o insucesso, deve ser de crítica (mesmo por quem é responsável por ele). Não deve é ficar por aí, deve apresentar alternativas e efectuar ou propõr mudanças. A mudança é uma ferramenta fundamental para a sobrevivência. Mas isto já é outra conversa...
Ontem á noite, comecei a ler um artigo publicado na revista de Domingo do diário o Público, cujo título é "Errado é não contar com o erro", de Joana Gorjão Henriques. Ainda não terminei e penso lê-lo com calma, durante a semana.
ResponderEliminarEnquanto o lia, lembrei-me deste artigo, neste blog e pensei voltar ao assunto.
O fracasso ou o erro são situações de desíquilibrio que devem ser analisadas com cuidado, ou mesmo sensibilidade. São potenciais pontos de viragem, que podem conter muita informação útil.
Tentando fazer analogias com a teoria económica, a Economia tem ou não tem, situações de desiquilibrío? Está ou não, sempre em equilíbrio?
Pessoalmente, acho que tudo prova que existem situações de desiquílibrio e é saudável que assim seja. A Economia como ciência deve analisar as situações de desiquílbrio, com a mesma acutilância que analisa as outras. Como elemento do processo cientifico, deve procurar identificar as causas, as origens correlacionando-as com as consequências. Equivalerá a identificar os culpados e a propôr possíveis alterações que impeçam a repetição do mesmo desiquilibrio, que se pode também tornar equivalente etimológico a fracasso ou erro. É neste sentido que acho fundamental a culpabilização, como parte fundamental da evolução para a fase seguinte.
Suponho que o método cientifico usado pelos psicólogos ou psiquiatras não se distinga "muito". Aqui aproveito para fazer uma ressalva ao "muito". O método científico dos economistas é muito mais rígido que o da Medicina. Os economistas gostam muito de analisar as questões de forma estanque, per si, supondo tudo o resto constante, isto é, ceteris paribus. Um psiquiatra não entende esta metodologia. Para os médicos nada é estanque, nada é ceteris paribus. Mas continuemos.
Na Gestão e nos Recursos Humanos, muitos técnicos defendem que quem já cometeu erros, é preferível a quem os não cometeu. Para estes o traquejo do fracasso ou do erro é muito útil para as fases seguintes, ou para o projecto proposto.
Prefiro pensar que seja mais uma questão de bom senso do que enumeração de regra.
Da mesma forma que para um psicólogo e para um psiquiatra, a intensidade do fracasso num individuo tem interpretações diferentes, o assumir do erro ou fracassso pelo individuo, também ele assume uma natureza subjectiva. Poderão historiadores ou outros, associar valores de classe ou filosóficos. Para as sociedades, o processo de análise é idêntico. Após a identificação do fracasso ou erro e das suas origens, existirá a mudança com a vantagem da acumulação da experiência muito útil para o futuro.
Agora vou almoçar e depois disso irei passar a tarde numa esplanada à beira mar, em Carcavelos, conforme convite que uma amiga doente de um cancro mamário (em tratamento) me fez.