Um empresário português,
Nelson Quintas (1924-2001) dizia: “não meto as empresas no coração, meto-as na
carteira”, mas o que é certo que usava sempre a carteira no bolso mais próximo
do coração.
As empresas familiares
são, muitas vezes, uma actualização da história bíblica de Caim e Abel e
conseguem criar uma intensidade dramática que tem feito as delícias de produtos
televisivos como séries e telenovelas pelo que peso que detém esses universais
que são o dinheiro, o poder, a paixão e a família. Como confirma um estudo
Josep Tàpies, professor de Empresa Familiar do IESE, das 2300 empresas
familiares estudadas só 24 não tinham tido conflitos familiares. Para Portugal,
segundo dados da Associação Portuguesa de Empresas Familiares (APEF) em 2010,
menos de 40% das empresas familiares em Portugal conseguem atingir a segunda
geração, e apenas 10% a 15% sobrevivem até à terceira geração. Uma das maiores
vulnerabilidades das empresas familiares de qualquer dimensão é a “transição geracional”.
Contudo, as empresas
familiares não têm só de se defrontar com o seu futuro. Têm, como frequência,
que se confrontar com o passado e com o peso e a sombra dos self made man que
lhes deram corpo. Estes crêem-se, quantas vezes, eternos e incapazes de
compreender e aceitar a convivência entre várias gerações e a partilha de
poderes e de responsabilidades. Preferem a solidão do poder e da decisão até ao
fim contra todos e custe o que custar, e que é no fundo a essência do
empreendedor e o factor distintivo dos demais mortais. Do dinheiro, como diz
Belmiro de Azevedo, todos os empresários gostam, mas há outras forças que
impelem estes construtores de empresas e de emprego e que são sobretudo a
vontade de fazer – por isso José Manuel de Mello dizia que um empresário não se
reforma – e o desejo de posteridade, ou seja, que a sua obra perdure. Mas estes
diferendos reais e os conflitos possíveis seriam uma questão lateral se não
sucedesse que, como referem Grant Gordon e Nigel Nicholson em Family Wars: Classic Conflicts in Family
Business and How to Deal With Them: “as empresas familiares são a
espinha dorsal da economia de quase todos os países da Terra, e a riqueza das
nações depende delas”.
Na História, as empresas familiares foram a estrutura empresarial fundamental dos Burgos. Sem elas não teriam sobrevivido estruturas industriais ou comerciais, que estiveram na base sociológica de muitas grandes cidades europeias ou asiáticas. São as que sobrevivem às guerras... Conheci o Sr Nelson Quintas em Luanda, era eu criança e convivi com ele muitas vezes, até ao fim do império colonial português (se é que já acabou, pois por vezes pergunto-me se a Madeira não será uma colónia a precisar de independência). Como dizia, as palavras não coincidem com a memória que tenho dele. Era trabalhador e tratava bem os empregados. Tinha "carinho" pelas empresas e transmitia essa cultura aos descendentes. Talvez tenha aprendido é a sofrer com a perda d'outra forma. Por exemplo, não chorando. A afirmação que é citada no início será mais nessa direcção:«Um Homem não chora».
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