quinta-feira, 30 de maio de 2013

A gestão e os provérbios

O mundo pode ser lido, visto, interpretado e escutado como se fosse um longo encadeamento de narrativas em que cada um se envolve com a sua história, faz a sua diegese, inventa o seu conto, canta a sua poesia. Como escrevia o Financial Times, “o storytelling é uma ferramenta fundamental de gestão”, pelo que já adquiriu as denominações de organizational storytelling ou narrative knowledge.
Os negócios são na sua prática, muitas vezes, um hino ao sensocomum e, sobretudo, ao bom senso. Dos tesouros existentes mais saqueados e mais utilizados pelos gestores e pelos empresários para fortalecer a sua retórica e capacidade de persuasão, destacam-se os provérbios. Sem entrar em qualquer das prodigiosas teorias em volta dos provérbios, pode dizerse que são condensações de saber de experiência feito, ou, como diria a escritora Maria Gabriela Llansol, “fulgores”, de fácil e rápida – dois adjectivos muito queridos nos negócios – apreensão. Um dos lemas dos modernizadores industriais dos anos 70 em Portugal era o dos três bes: Bom, Bonito e Barato ou mais recentemente o que lançou o Euromilhões: “é fácil, é barato e dá milhões”.
Quantas vezes, para se explicar a estratégia de diversificação de uma empresa, de um grupo ou para justificar as formas de investimento na Bolsa não se usa o provérbio “não se deve colocar os ovos no mesmo cesto”? (embora a versão francesa fosse mais apropriada: “gestionnaie avisé ne hasarde pas tout son bien dans une seule affaire”). Segundo o Dicionário de Provérbios, há muitas variações em português: “não aposte num cavalo só”, “não arrisque tudo de uma vez só”, “não ponhas todos os ovos debaixo da mesma galinha”. Mas, como quase sempre acontece no saber popular, quando parecia que se tinha chegado a uma lei geral e universal na prática dos negócios, eis que Edgar Bronfman Jr. apresenta uma outra tese: “colocar os ovos todos no mesmo cesto da-nos força negocial”. A ideia pode ser boa, mas o teórico não tem um currículo de sucesso esmagador. O herdeiro dos Bronfman vendeu a Du Pont para comprar a Seagram e depois a Universal e, finalmente, juntou tudo para originar a VivendiUniversal (que vendeu à Seagram) para fazer um dos maiores flops de que há memória. Mas talvez Bronfman esteja apenas a fazer jus ao provérbio “para lograr o proveito, há-de se sofrer o dano”.
Se os provérbios têm os seus aliciantes, contêm também em si as suas próprias limitações. São uma explicação imediata, comunicam com facilidade mas carecem do poder de atracção e motivação de uma telenovela. Têm a energia do slogan mas não fazem sonhar como os contos de fadas, de bruxas, de duendes. Estes são mais ricos, mais prodigiosos e encerram sempre uma moral que mais não é do que uma lição para a vida. Uma lição que pode ser seguida ou rompida. É a imaginação a guiar os passos. Como escreveu o académico Luiz Jean Lauand, “a realidade vivida transforma-se em experiência e esta condensase em provérbio que, por sua vez, volta para a realidade, iluminandoa e permitindo a sua leitura”.

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