O mundo pode ser lido, visto, interpretado e escutado como se fosse um
longo encadeamento de narrativas em que cada um se envolve com a sua história,
faz a sua diegese, inventa o seu conto, canta a sua poesia. Como escrevia o Financial Times, “o storytelling
é uma ferramenta fundamental de gestão”, pelo
que já adquiriu as denominações de organizational storytelling
ou narrative knowledge.
Os negócios são na sua prática, muitas vezes, um hino ao senso‑comum e, sobretudo, ao bom senso. Dos tesouros
existentes mais saqueados e mais utilizados pelos gestores e pelos empresários
para fortalecer a sua retórica e capacidade de persuasão, destacam-se os
provérbios. Sem entrar em qualquer das prodigiosas teorias em volta dos
provérbios, pode dizer‑se que são condensações de saber de experiência feito, ou, como diria
a escritora Maria Gabriela Llansol, “fulgores”, de fácil e rápida – dois adjectivos
muito queridos nos negócios – apreensão. Um dos lemas dos modernizadores
industriais dos anos 70 em Portugal era o dos três bes: Bom, Bonito e Barato ou mais recentemente o que lançou o
Euromilhões: “é fácil, é barato e dá milhões”.
Quantas vezes, para se explicar a estratégia de diversificação de uma
empresa, de um grupo ou para justificar as formas de investimento na Bolsa não
se usa o provérbio “não se deve colocar os ovos no mesmo cesto”? (embora a
versão francesa fosse mais apropriada: “gestionnaie
avisé ne hasarde pas tout son bien dans une seule affaire”). Segundo o
Dicionário de Provérbios, há muitas variações em português: “não aposte num
cavalo só”, “não arrisque tudo de uma vez só”, “não ponhas todos os ovos
debaixo da mesma galinha”. Mas, como quase sempre acontece no saber popular,
quando parecia que se tinha chegado a uma lei geral e universal na prática dos
negócios, eis que Edgar Bronfman Jr. apresenta uma outra tese: “colocar os ovos
todos no mesmo cesto da-nos força
negocial”. A ideia pode ser boa, mas o teórico não tem um currículo de sucesso
esmagador. O herdeiro dos Bronfman vendeu a Du Pont para comprar a Seagram e
depois a Universal e, finalmente, juntou tudo para originar a Vivendi‑Universal (que vendeu à Seagram) para fazer um
dos maiores flops
de que há memória. Mas talvez Bronfman esteja
apenas a fazer jus ao provérbio “para lograr o proveito, há-de se sofrer o dano”.
Se os provérbios têm os seus aliciantes, contêm também em si as suas próprias
limitações. São uma explicação imediata, comunicam com facilidade mas carecem
do poder de atracção e motivação de uma telenovela. Têm a energia do slogan mas não fazem sonhar como os contos de fadas, de bruxas, de duendes.
Estes são mais ricos, mais prodigiosos e encerram sempre uma moral que mais não
é do que uma lição para a vida. Uma lição que pode ser seguida ou rompida. É a
imaginação a guiar os passos. Como escreveu o académico Luiz Jean Lauand, “a
realidade vivida transforma-se
em experiência e esta condensa‑se em provérbio que, por sua vez, volta para a realidade, iluminando‑a e permitindo a sua leitura”.
Sem comentários:
Enviar um comentário