Num
recente livro José Tolentino Mendonça diz que nos tornámos doentes do tempo:
“um desenvolvimento sereno do tempo não nos basta” e por isso “entramos num
ciclo sôfrego de atenção, actividade e consumo” como ilustram os horários dilatados
de trabalho, as solicitações ininterrupta. Se alguma culpa se pode atribuir
para esta situação aos denominados ladrões de tempo que o sociólogo Alec
Mackenzie identificou no seu livro As Armadilhas
do Tempo (The Time Trap). Nesta
lista de 20 causas vai das interrupções constantes do telefone, e-mail, redes
sociais, do planeamento inadequado, ao foco nas crises e curto prazo, passando
pela interrupção do trabalho com trivialidades, reuniões desnecessárias e mal
preparadas, papéis inúteis, querer fazer muitas coisas ao mesmo tempo, visitas
inesperadas, delegação ineficiente, desorganização pessoal, falta de
auto-disciplina, a incapacidade para dizer “não”, desídia (uma mistura entre
preguiça e indecisão), tarefas sem acabar.
Por
isso José Tolentino Mendonça diz que o caminho da transformação passa pela
verdade, aprendizagem e renúncia e que o primeiro passo é a renúncia da “obsessão
pela omnipotência”, ou seja, “temos de ter a coragem de perceber e aceitar os
limites, pedir ajuda mais vezes, e dizer ‘basta por hoje’, sem o sentimento de
culpa a martelar”. Por outro lado, “aprender a planificar com sabedoria o dia a
dia, hierarquizando as actividades, e concentrando melhor a nossa entrega. Precisamos
aprender a racionalizar e a simplificar, sobretudo as tarefas que se podem
prever ou se repetem”. Desta forma se pode reconquistar a possibilidade de
ouvir o mundo e escutar o nosso coração, os prazeres simples “que só a lentidão
e o silêncio nos fazem aceder”.
Como banda
sonora para este momentos podemos usar a peça de 4’33’’ de John Cage: O compositor considerava esta peça silenciosa como
a “minha peça mais importante (…) Não passa um só dia que não me sirva dela
para minha vida e para tudo o que faço. Recordo-a sempre que tenho de escrever
uma nova peça”. Ou então o disco mais singular da discoteca de Tom Waits que é The Best of Marcel Marceau: “tem 40
minutos de silêncio seguidos de aplausos, e vendeu muito bem nos anos 70”.
José Tolentino Mendonça, “Nenhum Caminho
será Longo- Para uma Teologia da Amizade”, Paulinas Editora, 2012
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