Os capitais alheios continuam a
ser a fonte principal de financiamento das empresas em Portugal. Num recente
livro, EntreLeadership, Dave Ramsay
defende que a pressa e a rapidez são dos maiores inimigos das empresas,
sobretudo das pequenas empresas que querem crescer rapidamente, o que, mais
tarde, cria problemas. O conselho de Dave Ramsay é “ir a pouco e pouco e fugir
às dívidas” porque “nos negócios cometem-se erros e, se se deve dinheiro, estes
tornam-se maiores”, e, quantas vezes, mortais. Em Portugal os dados financeiros
das empresas, desde há longos anos, contrariam esta regra de bom senso. Na “Análise sectorial das sociedades não
financeiras em Portugal 2010-2011”, estudo da Central de Balanços do Banco
de Portugal publicado em abril de 2012, refere-se que em 2010 o financiamento
das empresas por capitais próprios continuou diminuto, representava menos de
24% do activo na maioria das empresas. Nas cerca de 370 mil empresas, 25,3%
tinham capitais próprios negativos, cerca de 25% recorriam exclusivamente a
capitais alheios para financiar a sua actividade e apenas 25% apresentavam
níveis de autonomia financeira superiores a 58%. A dívida financeira
(empréstimos bancários, títulos de dívida e financiamentos de empresas do
grupo) representava mais de dois terços do financiamento alheio, que continuava
a ser a fonte principal de financiamento das empresas. A estas debilidades
estruturais juntam-se actualmente as dificuldades em conseguir crédito, que
está para a economia como o oxigénio para a vida, e em reforçar os seus
capitais próprios com dinheiro dos accionistas. É me tremos prátciso mais fácil
uma empresa ir buscar capital à banca pois a totalidade dos juros, comissões e
taxas pagas são considerados custos do que ir á carteira dos accionistas. Estas
situações criam problemas de gestão e têm impacto nos problemas de
produtividade do país, que não se resolvem unicamente com um novo código
laboral ou a abolição dos feriados. “Num país que está na União Europeia desde
1986 e em que o salário à hora de um trabalhador qualificado no sector
industrial é de 10 euros, se um empresário não consegue ser competitivo com
este preço é porque existem outras questões que precisam de ser abordadas”,
dizia Albert Jaeger, da missão do FMI em Portugal, numa entrevista. Perante
este quadro, não será através da imposição de uma qualquer moral calvinista ou
trapista (segundo o antropólogo americano, David Graeber, em Debt: the First 5000 Years, em
sânscrito, hebraico e aramaico, dívida,
culpa e pecado são denominados com uma só palavra) que se resolverão estes
problemas estruturais.
Sem comentários:
Enviar um comentário