No sábado, 9 de
novembro de 2013, morria no Hospital Infante Santo, da CUF Saúde, Jorge de
Mello, tinha 92 anos. O presidente da República descreveu-o como uma “figura
marcante no desenvolvimento industrial português no século XX”. Mas a sua
paixão foi a gestão e a criação de empresas.
Fleumático, de pose
aristocrática, rosto sisudo mas olhos irónicos, mostrava atenção pelo
interlocutor e deixava irromper sempre um humor inteligente. Há várias histórias
que o mostram. Certa vez, Ferreira Dias, então ministro da Economia, falava no
Conselho Superior da Indústria e defendia a indústria siderúrgica em Portugal
usando um dos seus argumentos: “um país sem siderurgia é uma horta”. Jorge de
Mello ouviu e retorquiu: “então a Suíça é uma horta”. Quando Américo Amorim lhe
comprou a herdade do Peral terá mencionado o facto de ser o homem mais rico de
Portugal. Jorge de Mello respondeu: “eu também já fui”. Não esqueceu as
afrontas que sofreu, mas não sofria de nostalgia do paraíso perdido. Disse
várias vezes: “poderia dizer que cheguei onde queria, mas não digo; também
nunca se chega, há sempre qualquer coisa para fazer”. Parafraseando o avô,
Alfredo da Silva, Jorge de Mello tinha uma costela Mello, que era “gente séria,
de palavra”, uma costela Mayer, judia, “com jeito para o negócio e dada às
artes, que sabem viver e são boa companhia”, uma costela Silva, “gente de
trabalho, que faz coisas e não sabe estar parada”, e uma costela Oliveira, “que
tem o talento da fantasia (…)o que te vai ajudar a adaptares-te a tudo”.
Jorge Augusto Caetano
da Silva José de Mello nasceu em Sintra, na Casa do Pombal, comprada pelo avô,
a 1 de Setembro de 1921. Era o segundo filho pois Maria Cristina, que viria a
casar com António Champalimaud, nascera um ano antes, tendo o terceiro filho,
Maria Amélia, nascido em 1922. Portanto naqueles tempos conturbados da República,
Jorge era o primogénito, o futuro líder do império. Tinha poucos meses de vida,
quando, na sequência da noite sangrenta de 19 de Outubro de 1921, o avô Alfredo
da Silva saiu do país. Repartiu o seu maior período de exílio entre Espanha e
França, de onde continuou a gerir os seus negócios. A infância de Jorge de
Mello foi passada entre Portugal e o estrangeiro. Alfredo da Silva só voltou em
1927, na sequência do golpe militar de 28 de Maio de 1926, que iria estar na
base da implantação do Estado Novo. Instalou-se então definitivamente em
Portugal, tal como a sua família. A 8 de Dezembro de 1927 nasceu José Manuel de
Mello. Viveram a sua infância entre a Casa do Pombal em Sintra e casa no Monte
Estoril, um palacete de estilo D. João V do avô Alfredo da Silva, e a Quinta da
Riba Fria do pai.
Jorge de Mello afirma
que “o meu avô Alfredo da Silva e os meus pais tiveram enorme influência na
maneira de ser dos meus irmãos e minha. (...) A nossa educação foi muito
germânica, não quero chegar ao exagero de dizer que foi espartana”. Sublinhando
que “a influência do meu avô não poderia deixar de ser muito forte e por efeito
da sua personalidade, muito afirmativo, muito determinado, com grande confiança
em si próprio mas, ao mesmo tempo, muito afectivo, empenhado em transmitir aos
netos um quadro de valores e responsabilidades muito nítido, assente nos
valores da honra, da justiça e da capacidade de realização”.
Parte do texto Publicado no Jornal de Negócios,
suplemento Weekend, de 15 de novembro de 2013