segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

As famílias tradicionais: entre a paz e a guerra (Sucessões vi)


Em 1966 quando Manuel de Mello faleceu os quatro irmãos trataram da herança em que se incluía o Grupo CUF, como recordava Jorge de Mello, “em 14 minutos”, mas Maria Cristina Mello, ex-mulher de António Champalimaud, recorrera ao aconselhamento de Mário Soares, e a solução gizada tivera o dedo de Marcello Caetano. Foi então criada a Sogefi, que passou a ser holding de um grupo com mais de 150 empresas. Quase quarenta anos depois, a sucessão de José de Manuel Mello aconteceu em outras circunstâncias. Em 1975 o grupo CUF fora nacionalizado e os irmãos Mello, nomeadamente Jorge e José de Manuel, decidiram que cada um “pedalaria a sua bicicleta”. Assim quando, a 20 de maio de 2004, na reunião conselho de administração da José de Mello, holding do grupo, José Manuel de Mello, aos 77 anos, anunciou a passagem de testemunho da liderança para o filho, Vasco de Mello, não houve surpresa nem dúvidas. Nesta altura já existia a tradicional reunião com os 12 filhos no chamado conselho de família que normalmente se realizava na Casa Ribafria em Sintra. A 2 de Fevereiro de 2006 José Manuel de Mello foi internado de manhã no hospital da CUF, na Infante Santo em Lisboa depois de ter um acidente vascular cerebral (AVC), entrando em coma até ao suspiro final na madrugada de 16 de Setembro de 2009. Mas os negócios mantiveram-se a funcionar em pleno tendo como principais executivos os filhos Vasco, 57 anos, Pedro, 55 anos, João, 51 anos, e Salvador, 48 anos. O grupo está repartido em termos accionistas pelos 12 filhos (seis irmãos e seis irmãs) que fazem parte do conselho de família. Uma vez por ano é realizada uma reunião de família (cônjuges e filhos). Existe um protocolo familiar que define algumas regras e princípios. Começa por sublinhar que Família e Grupo são entidades com motivações e critérios diferentes. Por outro lado refere que a gestão deve ser profissional e com respeito permanente pelos três valores fundamentais do Grupo José de Mello. Por isso estabelece também regras para os membros da família poderem ter acesso a cargos dentro do grupo. Para isso, devem ter um título académico, experiência profissional fora do grupo com bom desempenho (mais valorizada se for experiência internacional) e terem mais de 27 anos.
Na sua reconstrução a partir de 1980, o grupo de Jorge de Mello, em que pontifica hoje a Sovena, um dos players mundiais no azeite, foi preponderante a acção do filho Manuel Alfredo de Mello, 65 anos. Este na década de 90 afirmou a sua liderança executiva, embora Jorge de Mello, 92 anos, se mantivesse um conselheiro próximo, atento e interventivo. Mas em 2003, depois de uma queda que lhe provocou uma fractura no colo do fémur, Jorge de Mello, teve um AVC, esteve em coma, e está em casa mas não tem qualquer actividade. Entretanto, Manuel Alfredo de Mello acabou por comprar as participações no grupo de alguns dos seus nove irmãos e já está a fazer a passagem de testemunho para a quinta geração para o filho, Jorge Salema Garção de Mello, 40 anos. No fundo Manuel Alfredo de Mello está a fazer a poda da árvore genealógica familiar enquanto dona da empresa.
Pedro Queiroz Pereira, 64 anos, representa a terceira geração de negócios na família, depois do avô Carlos Pereira, que liderou a Epal e do pai, Manuel Queiroz Pereira que constituiu um império, grande parte do qual se perder na voragem das nacionalizações. No fim dos anos 80 com a morte do pai, Manuel Queiroz Pereira, aos 88 anos, e do irmão mais velho, Manuel Queiroz Pereira, ficou como líder da família, Pedro Queiroz Pereira. Conseguiu conquistar nas privatizações a Secil e CMP, nos cimentos, e da Portucel, na celulose e no papel, que se juntou à Sodim, Sonagi entre outros activos. Em 1994, Margarida Queiroz Pereira mostrou-se contra o endividamento para se comprarem as cimenteiras. Em 2003 Margarida vendeu a sua posição na Cimigest. Há cerca de cinco anos foi a vez de Matilde e Manuel, filhos do irmão Manuel Queiroz Pereira, trocarem as suas participações no grupo Cimigest por acções da Semapa e da Portucel e portanto deixaram de estar integrados nas holdings familiares. Em 2013 foi a vez de Maude Queiroz Pereira surgir a confrontar Pedro Queiroz Pereira contestando algumas das suas decisões numa guerra em que também esteve o Grupo Espírito Santo, um velho aliado e amigo da família, e os primos Carrelhas. O acordo final implica que Pedro Queiroz Pereira se torne maioritário no grupo.

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