quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Empreendedor por conta de outrem... e por conta própria


As palavras como as rochas são constituídas por camadas, por extractos, que se sobrepõem, se opõem, se supõem, se entrelaçam, se antagonizam, e a sua decifração conta-nos uma história, situa-nos no tempo. Neste movimento, há percursos singulares. A palavra “empreendedor” conta-nos no seu percurso recente a odisseia da iniciativa privada e individual na nossa história recente. A mesma palavra que hoje surge, polida e luminosa, era nos fim dos anos 70 o eufemismo para empresário; era a fórmula escolhida no início do seu mandato pelo Presidente da República, António Ramalho Eanes (1976-1984) para designar os industriais, comerciantes, os proprietários de empresas, os empresários, os patrões, tudo palavras que tinham uma conotação negativa. Mas o PR, estava longe de imaginar que estava a dar curso a um conceito que, nascido na Califórnia nos anos 60, se traduziria como elemento chave para o desenvolvimento e crescimento económico. Durante muito tempo o empreendedorismo associou-se em Portugal, até pela sua etimologia, a um comportamento empresarial juvenil e a uma atitude de risco; o que tem a sua razão de ser, porque numa sociedade com alguma aversão ao risco – o salazarismo constituiu-se como um movimento anti-moderno – e em que as solidariedades orgânicas se mantiveram durante longo tempo num peculiar desafio aos efeitos da modernização, o risco é exactamente associado a um atributo juvenil. E um dos sinais de mudança da nossa sociedade é de facto a associação da actividade empreendedora à inovação, ao desenvolvimento tecnológico, à mudança e iniciativa, à criação de emprego e de oportunidades.
Na senda do que dizia Peter Drucker os empreendedores são aqueles que criam algo novo, algo diferente; eles mudam ou transformam valores. O espírito empreendedor é uma característica distinta, seja de um indivíduo, ou de uma instituição. Não é um traço de personalidade, mas sim um comportamento e suas bases são o conceito e a teoria, e não a intuição.

A transformação e a apropriação
Esta figura do empreendedor e do empresário que é vista muitas vezes com uma certa ambivalência social, cultural, moral - embora os tempos não corram de feição para os gestores!!!. Mas há uma definição de empresário e empreendedor de João César das Neves. Diz ele: “o empresário é aquela pessoa que tem capital que não é seu, utiliza trabalho que não é seu, e tem ideias que não são suas, mas faz uma realidade nova. Um país que tenha capital, trabalho, matérias-primas e domine tecnologias, mas não tire partido do líder e visionário que é o empresário, não consegue crescer”. Esta definição mostra o lado alquímico do negócio e o lado especulador, a transformação, por um lado, e a apropriação, por outro.
O empreendedorismo e o empreendedor tornaram-se conceitos kit, prontos a ser usados quando se quer falar de inovação, iniciativa, emprego. Por isso gostaria de começar por esclarecer e situar a minha concepção de empreendedor e para isso apropriei-me da definição de um dos ídolos dos empreendedores e que é Belmiro de Azevedo, que ainda recentemente, num inquérito sobre a capacidade empreendedora dos universitários feitos por dois investigadores do Porto (Aurora Teixeira e Todd Davey, “Attitudes of Higher Education Students to New Venture Creation: a Preliminary Approach to the Portuguese Case”, FEP Working Papers, nº 298, Outubro de 2008) foi colocado, juntamente com a Sonae em primeiro lugar como modelos a seguir. Gostaria de salientar que a YDreams ficou em quarto e o professor António Câmara em décimo primeiro lugar e estavam incluídas empresas e gestores internacionais.
Belmiro de Azevedo costuma dizer que não devemos confundir empresário como empreendedor: “não são conceitos redundantes, nem variantes da semântica. São, isso sim, personagens perfeitamente distintas. Se como Empresário identificamos o proprietário ou o accionista de controlo de empresas, esse estatuto pode nada ter que ver com o que eu considero ser o conceito de Empreendedor. Porque só é empreendedor aquele que é capaz de conceber, de por em prática, e de instilar nos que o acompanham, uma atitude de desafio permanente, de vontade de superação da indiferença. E se assim é, o empreendedor pode, também, trabalhar por conta de outrem, até por conta do dito Empresário. Podemos, portanto, deparar com Empresários pouco Empreendedores. Com Empreendedores que não são Empresários. E mesmo funcionários públicos com vocação empreendedora!”. Aliás, um dos gestores da Sonae, que hoje também é empresário, quando estava no grupo dizia que era “um empresário por conta de outrem”, aquele que a teoria denomina na voragem taxinómica como intra-empreendedor, “uma pessoa empreendedora mas dentro de uma organização”. Tanto num caso como no outro o empreendedor está a criar e a defender postos de trabalho. E é esta concepção ampla que tanto o contexto económico como as instituições e os grupos devem ter capacidade de mobilizar, mas para isso têm de ter organização e capacidade de gestão porque se não tudo se reduz a um voluntarismo estéril e quantas vezes sacrificial.

Estrategos e logísticos e o chefe


Depois de perdidas (ou roubadas…) as eleições presidenciais de 1958 e impedido de regressar ao que ocupava de Director Geral da Aviação Civil, Humberto Delgado tentou organizar as forças que o apoiaram num Movimento Nacional Independente. Mas as coisas não estavam a correr bem e numa carta de Carta de 20 de Outubro de 1958 ao directório, constituído por Vieira da Almeida, Artur Andrade, Moreira d’Assunção, Cunha Leal, António Sérgio e Arlindo Vicente, tinha dois desabafos muito interessantes sobre o funcionamento interno das organizações:
Numa delas dizia que naquele movimento “em que abundam os estrategos, mas faltam os logísticos, em que abundam cérebros para congeminar, mas faltam braços para fechar e selar cartas, em que há despesas, mas não há bolsas”. Noutra ficava evidente a dificuldade que ainda hoje em Portugal se tem em aceitar as críticas e de as levar para um plano pessoal: “o chefe /Humberto Delgado/ é um homem que adora a colaboração a que, aliás, por muitos anos de trabalho colectivo e internacional está habituado, ao contrário de tantos que pregam democracia, mas à mais pequena discussão se tornam egocêntricos, egotistas, falantes, mas não ouvintes”. 

Tudo se compra e tudo se vende



António Champalimaud, o grande empresário português, e Ricardo Espírito Santo Salgado, líder do BES, já utilizaram, em circunstâncias diferentes mas com os mesmos objectivos (justificar uma venda…), uma frase idêntica: «na vida, tudo se compra e tudo se vende, menos a honra».
Por sua vez, Belmiro de Azevedo, que também tem a sua faceta de comerciante, gosta de realçar a importância e a dificuldade da venda. Costuma dizer: «aprendese muito a vender, porque vender é muito mais difícil do que produzir». Joe Berardo é mais directo quando diz que «comprar caro, vender barato e casar teso é uma coisa que qualquer um sabe fazer». Tal como José Sousa Cintra, que nos últimos anos parece não ter seguido o seu próprio conselho: «se comprar bem é mais fácil vender». António Horta Osório é mais analítico e defende que «para fazermos bem o comercial e o marketing, temos de fazer bem as contas».
Depois há algumas variações interessantes que merecem alguma
reflexão. Fernando Guedes, o empresário que pegou no Mateus Rosé (que o pai lançou por todo o mundo) e fez da Sogrape a grande empresa de vinhos portuguesa, diz «não queremos vender muito, queremos vender bem», enquanto o empresário de novas tecnologias, Paulo Rosado, ilustra um outro aspecto na área comercial e que é a importância da segunda venda: «é muito mais fácil vender a um segundo cliente do que ao primeiro. A primeira venda requer network ou encontrar alguém visionário e que esteja na disposição de apostar».


Cliente



Antes de fazermos um cliente, fazemos um amigo.
Fernando Guedes (Sogrape)

Uma marca de rosto humano e um relacionamento comercial em
que o cliente é um amigo
Rui Nabeiro (Delta Cafés)

In Filipe S. Fernandes, O Segredo Não É A Alma do Negócio, Matéria-Prima, 2012

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Tudo o que é sólido se dissolve no ar

Há uma frase de Karl Marx no Manifesto do Partido Comunista que é muito glosada e que diz que “tudo o que é sólido se dissolve no ar”. De facto a frase anterior é menos melódica e publicitária mas talvez tão interessante na sua íntegra é “todas as relações fixas, cristalizadas, com o seu cortejo de ideias e opiniões veneráveis, são varridas; todas as novas relações se tornam antiquadas antes de chegarem a consolidar-se”. Nesta aventura da modernidade é citada ciclicamente e parece sempre adequar-se aos tempos que correm, seja pelos ciclos em que o capitalismo é fértil, seja actualização do mito do eterno retorno.
Mas a actual crise na Europa parece reiterá-la com frequência, tanto pela sua duração (2008) como pela intensidade em que numa espécie de tempestade perfeita coincidiram as crises bancárias, de dívida soberana e económica (problemas de crescimento e competitividade). Na sua adequação começa a ser dedilhada pelos gestores, como se tivessem fascinado pela sua plasticidade. Como dizia recentemente Federico González Tejera, NH Hoteles, que tem 400 hotéis e 20 mil empregados, “já não há quase nada fixo nem permanente, e há que ter flexibilidade e agilidade para se adaptar à situação com que se depara e, com independência dela, poder ter os resultados que se pretendem”.

Grandes organizações



Quando uma empresa se torna muito grande, divida-a em companhias mais pequenas. Quando as pessoas que trabalham no mesmo edifício não se conhecem todas, tudo se torna impessoal. É a altura de dividir a empresa.
Richard Branson, patrão da Virgin 

Os empresários como figuras literárias (texto integral)



Quando Urbano Tavares Rodrigues escreveu O Adeus À Brisa não está a referir-se obviamente às performances da empresa concessionária de auto-estradas, cujo acrónimo Brisa pertence mais ao fundador da empresa, Jorge de Brito, do que a qualquer romance ou fluxo de ar ameno. Mas quando se escreve: “já reparou na afinidade entre estragos e estrategos?”, como o faz Maria Gabriela Llansol em O Senhor dos Herbais podemos estar a falar de vários mundos desde o militar até ao dos negócios.
Ao longo deste tempo, enquanto instigadores da actividade produtiva, têm sido retratados, pelos escritores por exemplo, um pouco ao modo como os Gregos viam o comércio. Este era apenas ganância e, portanto, uma actividade desprovida de Sentido. O distanciamento com que este universo da vida é apreendido radica em algumas das suas leis, regras e máximas. Como refere a filósofa Hanna Arendt, “no domínio comercial a divisa ““negócios são negócios” já contém em si mesma a desonestidade do especulador sem escrúpulos”.
O dinheiro sempre foi visto com ambivalência. O poeta e dramaturgo Almeida Garrett em As Viagens na Minha Terra perguntava “Quantas almas é preciso dar ao diabo e quantos corpos se têm de entregar no cemitério para fazer um rico neste mundo” “Andai, ganha-pães, andai; reduzi tudo a cifras, todas as considerações deste mundo a equações de interesse corporal, comprai, vendei, agiotai. No fim de tudo isto, o que lucrou a espécie humana? Que há mais umas poucas dúzias de homens ricos. E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar a miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico?” “cada homem rico, abastado, custa centos de infelizes, de miseráveis” e Camilo Castelo Branco, em “Onde está a felicidade?”, respondia que a felicidade estava “debaixo de uma tábua onde se encontram cento e cinquenta contos de réis”. O que poderia ter sido mais uma frase para a campanha do finado Banco Privado. Ou então sugerem-se os versos de João de Deus, em “Campo de Flores”: “O dinheiro é tão bonito,/tão bonito, o maganão!/Tem tanta graça, o maldito,/Tem tanto chiste, o ladrão!/O falar, fala de um modo.../ Todo ele, aquele todo.../E elas acham-no tão guapo!/Velhinha ou moça que veja, / Por mais esquiva que seja,/Tlim!/ Papo”.

Da literatura de Oitocentos a Pessoa
Segundo Alcino Pedrosa em Os Empresários na Literatura Económica Portuguesa de Finais de Oitocentos, “nas imagens mas correntes, o empresário figura como o campeão dos valores propagados pela doutrina liberal, como o defensor da liberdade de iniciativa, da limitação da intervenção do Estado, como um indivíduo capaz de racionalmente ter uma conduta, que articule os seus interesses pessoais com o bem-estar geral, gerando riqueza. Enfim, a personificação por excelência do homo economicus”. Acrescenta, “a ideia dominante na literatura económica deste período é a do empresário como protagonista sem rival da racionalidade económica. Dela resulta uma imagem do empresário como homem de sucesso (ou bem sucedido), que constitui uma as características fundamentais da ideologia económica a Regeneração”.
Como assinalou Maria Filomena Mónica, os industriais (e porque não mesmo incluir os empresários enquanto banqueiros, comerciantes) são figuras menores na literatura portuguesa. São quase sempre retratados com feroz ironia, distanciado desprezo ou então, como acontecia com os neo-realistas, como o símbolo do mal.
O industrial que numa das obras de Eça de Queiróz, é Teodorico de A Relíquia, vai trabalhar para uma fábrica de fiação na Pampulha depois de ser expulso de casa pela tia. Torna-se industrial como castigo pela queda de um anjo que afinal era um demónio. Em Alves & Ca, o comércio é o cenário para um enredo de paixão e traição. E Eça conheceu, em casa de Ramalho Ortigão, o industrial João Burnay, que era o gestor da Empresa Industrial Portuguesa, e que dizia que o seu único inimigo pessoal era Hegel.
O primeiro romance em que a industrialização é o pano de fundo foi escrito por Abel Botelho. Em Amanhã surge um patrão da indústria têxtil. O filho dos Carvalho Meireles faz uma fábrica no jardim do palácio e explora sem uma ponta de vergonha e de comiseração os seus trabalhadores. Ramalho Ortigão usou As Farpas para demolir os industriais e os capitalistas. Escreveu em 1876: “nos chefes de indústria, ausência absoluta de espírito de classe, de amor da profissão. Uma vez enriquecido, o industrial procura tornar-se capitalista, homem de negócios, influente político, comendador, visconde, director de bancos, gerente de companhias. E considera a fábrica um desdouro, uma “mesalliance”, um ganha-pão subalterno, com a vantagem principal de representar em cada eleição um peso de duzentos votos, a troco dos quais ele procura colocar-se sob a protecção do Estado e sob o favor dos governos”.
Em O Livro do Desassossego, Fernando Pessoa é mais enigmático, e por isso talvez mais verdadeiro. Para ele, “o dinheiro é belo, porque é uma libertação” e “nunca se deve invejar a riqueza, senão platonicamente; a riqueza é liberdade”. Mas, por outro lado, Vicente Guedes, o heterónimo que habita este livro, confessa: “nunca tive dinheiro para poder ter tédio à vontade...”.
Os romancistas portugueses contemporâneos escusam-se à abordagem do mundo económico e financeiro e fogem à virulência de um Ramalho Ortigão que nas suas As Farpas execrava o industrial, e numa carta aberta retratava-o como “parvenu pretensioso e rídiculo”, “ambicioso inepto”, “marido de uma pateta que quer ser baronesa”, “pai de um imbecil que quer ser marialva”. Há, porém, em O Anjo Ancorado de José Cardoso Pires, um olhar sage do sobre o mundo dos negócios: “a burguesia de 1900 que, em caso de falência, punha luto e deixava crescer as barbas, suava honra como termo-chave, termo sagrado, como termo-tipo.(...) Ah, mas o pior veio depois. Vieram duas guerras, nada menos que duas, e logo à primeira, com a subida à Banca de candongueiros e novos-ricos, o termo foi-se. À segunda guerra, pior. Os candongueiros que estavam defenderam-se á custa de leis e de aparatos de interesse público dos candongueiros que queriam vir. E passaram a usar palavras mais de raposa e menos lobo: correcto, capaz, prestigioso, termos em que não se empenha tanto a moral do indivíduo”.
Mas na obra de um escritor também pode estar inscrita as mudanças que perpassam pelo mundo. Como dizia António José Saraiva, os versos de Correia Garção (1724-1773), como leitura  “pouco interesse actual de facto oferecem” mas têm um grande “significado histórico-literário”. Neles se podem vislumbar “os novos costumes assinalam já a presença de nova gente na direcção da sociedade, a erosão subterrânea, invisível mas profunda, dos velhos costumes feudalizantes” e  “ burguesia portuguesa está, sem dúvida, a surgir na história com a fisionomia que a caracterizará durante cerca de dois séculos”.

O após revolução de 1974
Entre 25 de Abril de 1974 e 25 de Novembro de 1975 deu-se uma Revolução económica com a nacionalização de milhares de empresas. Olga Gonçalves em Ora esguardae, que pretende ser o registo em directo dos tempos pós-25 de abril, tem uma única frase que se pode relacionar com as alterações de propriedade e de estatuto social do empresário: “O cabrão do patrão cavou com a massa, e a gente que se desenrasque”, diz uma das personagens. Em 1976 Luís Represas, voz do grupo Trovante, cantava os versos de Francisco Viana: “O homem que explora o homem/ chamem-lhe empreendedor/ é um homem lobo do homem/ é mesmo explorador”.
Em alguns livros de António Lobo Antunes sente-se a presença, uma espécie de coro grego narrativo que nos assoma com pormenores, de uma família, que é uma autêntica saga dos negócios financeiros portugueses. Tem de tudo. Amor ódio, paixão, saber, trabalho, traição, livros antigos, cheques de reis emoldurados. É, contudo no Tratado das Paixões da Alma que se pode vislumbrar o tempo em que, por ausência de grandes e mediáticos magnates, as FP-25 exerciam a sua violência sobre obscuros gestores médios de empresas públicas ou privadas. No livro, porém, descreve-se o atropelamento de um banqueiro pelo grupo de acção armada : “E o cavalheiro imaginou a cadela de coleira vermelha ou o banqueiro barrigudo, de pasta na mão, a atravessarem sem pressa, para o portão da moradia, a rua de plátanos do Estoril, e o jipe conduzido pelo Sacerdote a arrancar de súbito da esquina, a crescer, de faróis acesos, no alcatrão que o reflexo das folhas assemelhava a uma lâmina de água, imaginou o ruído dos travões e a ebulição do motor, imaginou o banqueiro a encolher-se ainda, de palmas abertas, recuando uma passo...”.
Vergílio Ferreira prefere o registo profético. Em Nome da Terra coloca na boca de um agitador de consciência, Salus, um manifesto contra a depredação, sobretudo a capitalista, onde ressoa a célebre comparação de Freud de que o dinheiro seria mais excremento que oiro. Diz Salus: “mas falo mesmo dos tubarões do capital, banqueiros atolados em moedas que são as fezes, o excremento da ganância e da vileza, grossos empresários que quereis empresariar o mundo, o céu com a vossa fumarada, as almas com as vossas cadeias e os rios e os peixes deles com a vossa matéria excrementícia”.
Os romances na voz das suas personagens também disseminam pequenas lições de gestão. Não são as buzzwords que fazem a riqueza dos chamados gurús e consultores, mas pequenas lições de bom senso. O Avô, comerciante e personagem Tocata para Dois Clarins de Mário Cláudio, recorre ao navio, metáfora antiga, que já encapelava a República de Platão, para dar uma pequena lição de gestão: “Dirigir um estabelecimento é como tripular um navio, certificando-se a gente de que lado sopram os ventos, da direcção da agulha de marear, do estado das marés, da disciplina da equipagem, do nível de funcionamento das geringonças que, sem nunca parar, vão labutando, na casa das máquinas, e só assim, meus amigos, sob o plácido olhar do Grande Arquitecto do Universo, é que conseguiremos atingir o porto seguro”.

Henry Burnay e os escritores
Em Portugal, Henry Burnay foi um alvo privilegiado para jornalistas e escritores. Raul Brandão recorda nas suas Memórias, o projecto de um livro sonhado por Fialho de Almeida e que nunca chegou a escrever, chamar-se-ia A Cloaca e “o primeiro capítulo está feito: é uma festa da alta sociedade no claustro da Batalha... Aproveito a época do Burnay e do marquês da Foz, a luta da finança, quando o Foz tinha palácios e o Moser carro a duas parelhas. Deram-se festas esplêndidas... Tenho as figuras todas, homens de negócios e jornalistas, o Mariano e o Navarro... um dia alugam um comboio e vão dar uma festa no claustro da Batalha. É uma ceia formidável, com mulheres de grande roda, políticos, literatos e, dentro do claustro, entre a grandeza e a severidade daquelas pedras, caem de bêbados e mijam pelos cantos, nos túmulos». Fialho de Almeida chamou-lhe «pulgão polimórfico» e Eça de Queirós ter-se-á inspirado em Burnay para a criação do banqueiro Cohen de Os Maias.
Quem não se cansava de fazer do Conde de Burnay o alvo das suas caricaturas e dos seus dichotes, era Rafael Bordallo Pinheiro. Nos seus jornais parecia obcecado pelo Grande Plutocrata, o homem que na imaginação popular, como refere Maria Filomena Mónica, «transformara-se no capitalista por excelência, judeu na origem, internacional nos contactos e dissoluto nos costumes». Na edição de A Paródia de 18 de Dezembro de 1901 retrata-o como um ser longíneo com uma grande mão direita a segurar o mapa de Portugal, enquanto na esquerda se vê um banco de madeira onde o banqueiro se preparava para colocar o país, enquanto ao lado soavam as seguintes estrofes:
Estrangeiro, banqueiro, onzeneiro, folião,
Tem Portugal inteiro apertado na mão:
bancos, províncias, oiro, hotéis, homens, governos,
Querelas, concessões, coroas, céus, infernos,
Companhias, jornais, dinheiros fortes, fracos,
Ministros, imbecis, capelas e tabacos,
Virgens de Santo António, o mapa, os usurários,
Festas nacionais, misérias, centenários,
o clero, a fome, o sangue, o riso... Tudo agarra!
Não é mão, é tenaz! Não é tenaz, é garra.
Para se perceber a dimensão do império, socorremo-nos de um texto de Ramalho Ortigão, comentado por João de Sousa Câmara: “querem dinheiro? Aqui está às ordens: podem ir passando os recibos”. E ergue, acrescentamos nós, a casa bancária Henry Burnay & Ca. “Querem fazendas? Aqui têm amostras à escolha”. Arrenda, adiantamos nós, o Palácio de Cristal e organiza mais tarde os grandes Armazéns Hermínios. (...) “Desejam navegar, serve-se-lhes navegação a vapor!”. E logo levantava a Companhia de Navegação Thétis no Porto. “Convém-lhes segurar alguma coisa, têm aqui companhia que segura tudo!”. E imediatamente criava uma sociedade de seguros.

Alfredo da Silva e os escritores
Por sua vez, Alfredo da Silva, uns dos rutilantes empresários portugueses, não pau para muita obra literária. Joaquim Paço d`Arcos referencia-o nas “Memórias” ao descrever o seu casamento, para o qual o dono da CUF foi convidado: «uma assistência numerosa, reunião mundana, fardas rútilas, casacas sóbrias, toilettes vistosas de senhoras. No fundo da capela o industrial Alfredo da Silva, sem resguardo  pela solenidade decorrente. E o som grave do órgão não abafava, inteiramente o metal da sua voz irreverente a baralhar negócios e maldizer». Aliás, foi em Alfredo da Silva que o escritor se iria inspirar para a personagem Costa Vidal, um industrial e banqueiro que surge na peça de teatro “O Cúmplice” e na série de romances que viriam a constituir a Crónica da Vida Lisboeta. Esta personagem tem «algo do grande lutador» e «sem a sua obesidade e sem a sua truculência (...) desempenha no mundo capitalista um papel semelhante e tem a fibra com que o dirigente da CUF construiu um império». De facto, segundo o escritor, Alfredo da Silva tinha um «feitio chicaneiro» que no entanto não apagava as suas «grandes qualidades de industrial dinâmico e empreendedor».
Como nos anúncios da focopiadoras, muitas vezes a cópia suplanta o original, é uma  das forças do “kitsch”. José Gomes Ferreira dá nota da surpresa no seu diário, “Dias Comuns I - Passos Efémeros”, de súbito, o grande capitalista incorpora os traços da “charge” neo-realista. Escreve em nota de 4 de Junho de 1966: “Diante da Fábrica de  Tabaqueira, em Albarraque , os deuses do neocapitalismo triunfante ergueram uma estátua solene ao Capital de Sempre na forma de Alfredo da Silva . É o símbolo mais grosseiro que vi, até hoje, virado para o Sol: um homem empertigadamente gordo e grosso, de fraque, bengala na mão direita e charuto (sim, CHARUTO!) na mão esquerda. Uma autêntica caricatura de bronze insolente como que saída dos primeiros romances neo-realistas que, pelo visto, não são tão inventados como se nos afiguram agora, em pleno momento de idílio sórdido do neo-socialismo (desossado do marxismo) com o neocapitalismo...”. Está muita próxima da descrição do homem mais rico em A Floresta de Sophia de Mello Breyner: “este era um homem atarracado e feio com duas grossas bochechas de sapo que tremiam dos dois lados da cara. Toda a gente na cidade sabia que ele não se interessava pelo dinheiro”.
Curiosa é a relação, mecenática, entre o empresário Manuel Vinhas e o escritor Luiz Pacheco, conhecido pela sua crónica falta de dinheiro. Como se escreve em “Mano Forte”, um recolha de cartas e postais de Luiz Pacheco, este refere que a edição a “Crítica de Circunstância” seria “paga pelo dr. Vinhas, da Portugália, cervejas”. Estávamos em dezembro de 1964. Sete anos depois, Luiz Pacheco dedicava-lhe a primeira edição dos seus “Exercícios de Estilo”. Em 1975, quando Manoel Vinhas tinha os seus bens nacionalizados e vivia no Brasil, Luiz Pacheco escreveu: “do mecenas Manoel Vinhas falo pelo que me toca. Durante aos, mais de dez, auxiliou-me em dinheiros, renda de casa pontualmente paga, bolsa de estudo em livros, máquina de escrever, a minha charrua, oferecida. Sem em conhecer pessoalmente, apenas alertado para a minha difícil situação económica por um Amigo comum”.













Os 10 mandamentos de gestão de Carlos Slim


As regras de gestão valem o que valem e nem sempre o que se escreve é a prática corrente como os velhos Dez Mandamentos ilustram. Mas podem servir como utensílios de pensamento, como ponto de partida para uma reflexão mais profunda, o que é importante sobretudo quando a gestão é, por essência, a arte de decidir assunto por assunto numa espécie de salto de pedra em pedra numa aparente dispersão sem sentido: mas é a conclusão destas tarefas que dá sentido ao conjunto. Por isso pensar e ter ideias claras permite dar ao conjunto uma direcção e um caminho e não apenas pedalar pela força da inércia.
O empresário mexicano Carlos Slim, que é também o homem mais rico do Mundo segundo a revista Forbes tem um decálogo que resume muitas das suas decisões e da forma com organizou o seu grupo de empresas. Claro que seu sucesso se deve muito a sua argúcia mas também teve a asa protectora do Estado que permitiu que em alguns sectores actuasse em regime de quase monopólio. O seu Grupo Carso tem hoje uma multiplicidade de investimentos e como dizia recentemente um gestor de fundos do Grupo Financiero Interacciones, Alejandro Hernande: “Ele nunca fez com que um investimento falhasse. É alguém que sempre que atira acerta no alvo”.

O decálogo de Carlos Slim
1 Ter estruturas organizacionais simples com níveis hierárquicos mínimos, recursos humanos com qualificação e com formação nas funções executivas. 
2 Flexibilidade e rapidez nas decisões. Operar com as vantagens da empresa pequena que são as vantagens que tornam grandes as empresas.
3 Manter a austeridade em tempos de vacas gordas fortalece, capitaliza e acelera o desenvolvimento da empresa, ao mesmo tempo que evita os amargos ajustes drásticos nas épocas de crises.
4 Ser sempre activos na modernização, no crescimento, na capacitação, na qualidade, na simplificação e na melhoria incansável dos processos produtivos. Incrementar a produtividade, a competitividade, e reduzir despesas guiados sempre pelas melhores referências mundiais.
5 A empresa nunca deve limitar-se à medida da ambição do proprietário ou do administrador. Não nos sentirmos grandes nos nossos pequenos cantinhos. 
 No há repto que não possamos atingir trabalhando unidos na clareza de objectivos e conhecendo os instrumentos e recursos disponíveis.
Fazer o mínimo investimento em activos não produtivos. O dinheiro que sai da empresa evapora-se. Por isso reinvestimos os excedentes em utilities.
8 A criatividade empresarial não se aplica apenas aos negócios, mas é também às soluções de muitos dos problemas dos nossos países; o que fazemos através das fundações do grupo.
9 O optimismo firme e paciente sempre rende os seus frutos. Todos os tempos são bons para quem sabem trabalhar e têm com que fazê-lo.
10 A nossa premissa é e sempre foi a de que há que ter sempre presente que na morte partimos sem nada; que só podemos fazer as coisas em vida e que o empresário é só, temporalmente, um criador de riqueza.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

DIXIT Acção



O meu princípio é nunca dizer nada; apenas fazer.
Lou Gerstner, que foi presidente da IBM 

É mais fácil produzir do que vender



Miguel Pais do Amaral é um dos pioneiros em Portugal do denominado private equity e, portanto, os seus princípios empresariais resultam de um outro tipo de influências. Diz que vende os negócios quando considera que estes perderam o potencial de crescimento ou que há outros mais atractivos desse ponto de vista. Confessa: “eu não estou nesta vida por razões sentimentais. Estou aqui com um objectivo: criação de valor. Quando se está num sector que cresce, óptimo; quando o sector deixa de crescer, é sair para entrar noutro”. No entanto, não há um pensamento elaborado sobre esta arte de bem vender, apesar de haver quem defenda que o paradigma histórico de gestão portuguesa seja mais a do “comerciante” do que a do gestor ou empreendedor. Assim, o nosso arquétipo empresarial seria o inspirado na personagem do Tintin de Hergé, Oliveira da Figueira, que surgiu em Os Charutos do Faraó e Tintim no País do Ouro Negro. O que nos daria excelentes qualificações para vender e não seria tão mau como parece nos tempos que correm. Mas é uma arte bem mais difícil de dominar do que parece. Como diz Belmiro de Azevedo é mais fácil produzir do que vender.

domingo, 27 de janeiro de 2013

DIXIT Publicidade


Aprendi que é mais fácil fazer um discurso sobre boa publicidade do que fazê-la.
Leo Burnett, fundador da agência de publicidade Leo Burnett 

O empresário português e Vasco Pulido Valente (texto integral)



Nos seus textos de opinião, o historiador Vasco Pulido Valente utiliza a sua visão de longo prazo e o conhecimento adquirido por ofício para registar, às vezes, como se fosse um antropólogo cultural, a visão social, política, histórica, axiológica e cultural do empresário. Mais do que a sua opinião, estas reflexões funcionam como um jogo de espelhos. Parte do pressuposto de que no fundo cultural comum de Portugal predominam ainda os valores de cultura camponesa pobre: “falido, estagnado e arcaico, Portugal precisa que o levem à força e à má cara para o mundo real, que os portugueses detestam. Os valores de uma cultura camponesa pobre, como a nossa, são a segurança e a rotina. Nada mais contrário ao que nos propõem: a iniciativa, a competição, o risco”. Num outro texto, reforça e invoca a ausência de uma revolução industrial que assim preservou: “uma cultura camponesa, ainda hoje visível no típico empresário indígena, ou, por exemplo, em hábitos quase universais, como o de ignorar o moderno mecanismo chamado “relógio”.” Por isso não surpreende que “como não temos empresários, ou os que há são poucos e maus, é difícil que comecem a aparecer grandes quantidades de empresários bons”.
Os empresários portugueses não se dissociam do fundo cultural comum, e que é o seu campo de acção natural, em que o Estado predomina e impõe as suas regras, gerando por um lado o desejo de protecção, e por outro, o favorecimento do medo e a submissão. “O medo move a Confederação da Indústria Portuguesa como o último empregado do último serviço do mais miserável ministério. O santo medo do patrão que faz de Portugal este país pacífico e ordeiro que o mundo admira”, escreveu Vasco Pulido Valente.

O Estado e a inveja
Tudo isto faz dele um ser mítico, uma espécie de unicórnio: “Cavaco disse constantemente na campanha que a primeira preocupação dele seria ajudar, promover e proteger essa criatura mítica “o empresário moderno português”, que um dia nos tirará das garras da miséria”. O drama nacional é que há uma associação virtuosa entre empresários e o desenvolvimento económico, tanto mais que este “depende muito pouco do Governo e quase tudo de empresários que não investem ou, quando investem, não investem como deviam. Como vai o Eng. Sócrates, por exemplo, arranjar empresários que não existem? O Presidente supunha que a sua presença bastaria para os fazer brotar como cogumelos”.
Nesta mundivisão de Vasco Pulido Valente sobre os empresários portugueses há ainda dois outros temas recorrentes. Primeiro, a relação dos empresários com o Estado: “quando as coisas correm bem, os senhores empresários portugueses protestam persistentemente contra a intrusão do Estado nos seus negócios. Quando as coisas correm mal – como qualquer operário, “artista” ou funcionário público – os senhores empresários portugueses pedem ao Estado a sua salvação. Nisto, os senhores empresários portugueses são mesmo portugueses. Não se limitam a exigências razoáveis (o alívio da burocracia, a reforma fiscal ou a reforma das leis laborais), esperam da suposta omnipotência do poder uma intervenção decisiva. Desde o seu trémulo princípio que o capitalismo português, como nenhum outro na Europa, viveu da protecção do Estado, de que recebeu privilégios sem fim. Não vale a pena contar essa longa história em que o PREC foi a excepção e não a regra. Infelizmente parece que o hábito ficou”.
Em segundo lugar, surge a inveja, a irritação e a concomitante caça aos políticos, aos ricos e aos empresários. “Era fatal que o empobrecimento do país (mais rápido do que previa a ingenuidade do cidadão distraído) provocasse uma ou outra forma de caça às bruxas das muitas que a cultura indígena costuma produzir. Os políticos costumam servir de primeiro alvo: porque usam o poder (que se imagina enorme) em seu próprio benefício e porque exploram e desprezam o povo. Os ricos (mesmo sem dinheiro) são o segundo alvo, sobretudo se andaram na política, porque se fizeram fatalmente à custa da pobreza do próximo. E, em versões mais sofisticadas, também aparece, como terceiro alvo, o horrível empresário português, que vive da protecção e do favor do Estado, foge do risco e não cria verdadeira riqueza. Dantes também se perorava muito contra os funcionários públicos, que hoje, protegidos pelo número, gozam de uma certa imunidade”.

Vidas paralelas Os merceeiros



Juan Roig, fundador e dono da rede de supermercados espanhola Mercadona, cujo modelo de negócio é admirado em todo o mundo costuma dizer que “en Mercadona, la clave del éxito pasa por mantener la mentalidad de tendero”. Mas estes dois portugueses estavam na indústria quando decidiram derivar para a grande distribuição, o outro nome do comércio. No início dos anos 90 forma atraídos pela internacionalização e pelo Brasil em particular com investimentos onerosos em redes de distribuição num país que falava a mesma língua mas não vive nem pensa da mesma maneira. E neste afã houve uma certa bulimia. Tentaram-se pelo retalho especializado com uma partir para Espanha e o outro a engalanar-se com uma marca de topo britânica. E nesta orgia de negócios um deles apostou na Polónia. Falharam na viagem a imitar Pedro Álvares Cabral, mas a aposta no Leste europeu, depois de 11 anos a perder dinheiro e ter dores de cabeça que nenhuma aspirina curava, revelou-se uma espécie de Euromilhões, com a vantagem de acontecer todos os anos em vez de uma vez na vida. Sempre erigiram a ética nos negócios como padrão de vida, a eficiência fiscal como lema de eficácia empresarial e a defesa do bem comum como causa pessoal. Têm o sonho de ser se tornarem nos Sages da Democracia mas enquanto um o faz em nome pessoal e anda de conferência em conferência, discurso em discurso, entrevista em entrevista, o outro rodeou-se uma fundação e da sua máquina de promoção comunicacional. Já encontraram os herdeiros, Paulo e Pedro, como os dos apóstolos, que, com pouca diferença no tempo, assumiram os destinos dos impérios, têm raio de acção mas o olho paterno mantém-se atento e protector. A anomia do mercado interno levou os seus grupos para novos mercados em busca de um novo maná. Um aproveitou uma porta amiga em África, o outro, depois da Polónia, demandou o Pacífico. Um nega-se a investir em Angola por causa das corrupção, o outro poderia arguir que não foi para a Colômbia pela nebulosa que envolve os direitos humanos naquela democracia.
Os merceeiros são Belmiro de Azevedo e Alexandre Soares dos Santos. 

DIXIT Génios


“Génios não faltam. O que não há é gente útil e capaz"
Cartão de Fernando Guedes, editor e fundador da editorial Verbo, para Marcello Caetano em 13 de Setembro de 1973

sábado, 26 de janeiro de 2013

Em crise os gestores são todos iguais



Ivan Cavallari, antigo bailarino e actual director artístico do Ballet da Ópera du Rhin, disse ao Público que o bailado contemporâneo “se dança no chão e o clássico se dança no céu” e parece um excelente resumo de um programa de gestão de uma empresa em tempos de crise profunda e sem fim à vista, em que as linhas de resistência se sobrepõem às aberturas para o amanhã. Hoje os gestores actuam de olhos postos no chão, porque, como dizia o slogan punk, parece que não há futuro, e o céu só serve para invocações e preces. Portanto, não é em tempos de crise que se vêem os bons gestores. Jorge Armindo, que geriu durante 20 anos do Grupo Amorim, reuniu Portucel e Soporcel, e hoje lidera a Amorim Turismo, não considera as crises como provas de fogo para os gestores e diz: “Cheguei a uma conclusão discutível mas considero que numa crise tão profunda como a que estamos a atravessar o que distingue um gestor de grande qualidade e um de média qualidade tende para zero, porque não se fazem omeletes sem ovos e nós estamos a ficar sem ovos. Há diferença apenas na fase inicial, em que o bom gestor é mais rápido a tomar as medidas e outros demoram mais tempo. Mas o verdadeiro potencial do gestor está a ser muito limitado pela crise”.

DIXIT Gestão



A gestão é a actividade ou arte em que aqueles que ainda não foram bem-sucedidos e aqueles que já conheceram o fracasso são conduzidos por aqueles que ainda não fracassaram.
Anónimo 

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

O que é o gestor


O que é o gestor: aprendiz de tudo, mestre de nada ou a inteligência e o bom senso


 “Não menosprezeis os homens de negócios, porque a gestão das questões privadas apenas difere dos assuntos públicos no que toca à dimensão. Os restantes aspectos são muito semelhantes, especialmente esta questão: nenhum funciona sem a ajuda dos indivíduos, nem nenhum é resolvido por tipos diferentes de indivíduos.”
Sócrates em Xenofonte

Richard Barker, que foi director de MBA da Cambridge University, definiu o gestor como “pau para toda a obra” ou, seguindo o ditado espanhol, “aprendiz de tudo, mestre de nada”, referindo que a função do “gestor é geral, variável e indefinível”. O gestor António Horta Osório diz numa carta a um jovem gestor que “a gestão não é uma ciência, nem uma arte, é um exercício inteligente e sensato de tomadas de decisão, sempre com informação incompleta (ao contrário dos exames na universidade), que terás de fazer ao percorrer o teu próprio caminho, e em que chegarás mais longe se te esforçares mais e se estiveres sempre mais bem preparado”. Rui Vilar elaborou para as aulas de gestão a seguinte definição: “organização, condução e controlo do processo combinatório de um dado conjunto de meios (humanos, físicos, financeiros e intangíveis) para produzir bens ou serviços, de acordo com certos objectivos e visando determinados fins, num enquadramento evolutivo e mutável”. Mas como diz Belmiro de Azevedo, “a gestão nada tem de misterioso. É uma arte simples, que se reduz a bom senso, mais, boa formação, mais, boa informação. Mas, sobretudo, o que conta é o bom senso”.
      Muitas destas citações, provérbios, expressões obedecem ao primado da experiência e surgem como reflexões práticas da gestão e da administração das empresas e das organizações. O seu principal valor é pois o do exemplo. Mas também emergem como expressões conceptuais que têm a sua origem no crescente caudal de conhecimentos das disciplinas científicas da gestão. Por outro lado, pressente-se a ideia do “empresário como factor de produção”, que se reuniria aos comuns factores de produção do capital e do trabalho. E muitas delas andam em volta da canónica definição de gestor da Shell, em que as qualidades exigidas eram o poder de análise, imaginação, sentido da realidade, visão de helicóptero e liderança. Para Gary Hamel, “o sistema de gestão – que abrange uma variedade de análises, orçamentação do capital, gestão de projectos, compensações por desempenho, planeamento estratégico e outros temas – entra na classe das grandes invenções da humanidade – ao mesmo nível do fogo, da escrita e da democracia”. Mas neste conjunto de citações entra-se mais no corpo do gestor e do empresário do que na arte e ciência da gestão e traduz-se também a forma como as condições de exercício da gestão têm mudado significativamente nos últimos anos. Como explicava recentemente o empresário Alexandre Soares dos Santos, “o que se exige hoje a um administrador não é comparável ao que se exigia há 25 anos. Um quadro sénior tem de trabalhar sete dias por semana, ter sempre o telemóvel ligado e, se houver um problema, tem de se meter num avião. A globalização implica ir a todos os lados do globo, a sítios onde os turistas não põem os pés, para comprar os melhores produtos”.


ESPELHO O Consumidor Irracional


Teorias e Ideias  O Consumidor Irracional
Na senda da economia comportamental de, por exemplo, Dan Ariely ou Daniel Kahneman, prémio Nobel, um paper sobre a forma como os consumidores fazem as suas escolhas. O paper, The New Science of Pleasure, é de Daniel McFadden e, como se escreve na The Atlantic, mostra que as vias económicas seguidas para explicar o nosso processo de decisão têm fracassado e que é preciso recorrer aos conhecimentos da psicologia, antropologia, da biologia e da neurologia para chegar a um novo mapa das escolhas.


http://www.nber.org/papers/w18687.pdf?new_window=1

DIXIT Um questão de custos (Kotler)


As empresas prestam muita atenção ao custo de fazer alguma coisa. Deviam preocupar-se mais com os custos de não fazer nada.
Philip Kotler

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

LIDO Banco do Canadá procura governador

Depois de o Banco de Inglaterra ter contratado para governador Mark Carney, que estava no Banco do Canadá, num processo que envolveu inclusivamente a publicação de anúncios na revista The Economist, agora é a vez de o Banco do Canadá lançar um processo de recrutamento.Como a empresa de head hunter é a mesma, Odgers Berndtson, o processo vai ser semelhante.
http://economia.elpais.com/economia/2013/01/17/actualidad/1358444048_713238.html


LIDO Carrefour "copia" Pingo Doce

A estratégia dos preços baixos todo o ano
O Carrefour atravessava uma espécie de melancolia que o levava a perder mercado em França, que representa cerca de metade do seu volume de negócios. E de estratégia em estratégia chegou, em emados de 2011, à dos "preços baixos todo o ano", que é o slogan do nacional Pingo Doce, e que agora parece estar a resultar. O Carrfeour baixou a facturação em França mas não perdeu quota de mercado. 
http://www.lemonde.fr/economie/article/2013/01/17/le-prix-cle-du-succes-pour-les-distributeurs_1818395_3234.html



DIXIT O lazer e o trabalho


Os lazeres constituem uma coisa tolerável e às vezes benéfica para as famílias ricas, e mesmo para os professores universitários. Jamais para os pobres; é preciso obrigá-los a trabalhar”. 
A ironia de John Kenneth Galbraith, economista norte-americano, a propósito da acusação de que os regimes de rendimento mínimo e o subsídio de desemprego conduzem à ociosidade.

Parte III Os empresários segundo Vasco Pulido Valente


Parte III
Nesta mundivisão de Vasco Pulido Vantes sobre os empresários portugueses há ainda dois outros temas recorrentes. Primeiro, a relação dos empresários com o Estado: “quando as coisas correm bem, os senhores empresários portugueses protestam persistentemente contra a intrusão do Estado nos seus negócios. Quando as coisas correm mal – como qualquer operário, “artista” ou funcionário público – os senhores empresários portugueses pedem ao Estado a sua salvação. Nisto, os senhores empresários portugueses são mesmo portugueses. Não se limitam a exigências razoáveis (o alívio da burocracia, a reforma fiscal ou a reforma das leis laborais), esperam da suposta omnipotência do poder uma intervenção decisiva. Desde o seu trémulo princípio que o capitalismo português, como nenhum outro na Europa, viveu da protecção do Estado, de que recebeu privilégios sem fim. Não vale a pena contar essa longa história em que o PREC foi a excepção e não a regra. Infelizmente parece que o hábito ficou”.
Em segundo lugar, surge a inveja, a irritação e a concomitante caça aos políticos, aos ricos e aos empresários. “Era fatal que o empobrecimento do país (mais rápido do que previa a ingenuidade do cidadão distraído) provocasse uma ou outra forma de caça às bruxas das muitas que a cultura indígena costuma produzir. Os políticos costumam servir de primeiro alvo: porque usam o poder (que se imagina enorme) em seu próprio benefício e porque exploram e desprezam o povo. Os ricos (mesmo sem dinheiro) são o segundo alvo, sobretudo se andaram na política, porque se fizeram fatalmente à custa da pobreza do próximo. E, em versões mais sofisticadas, também aparece, como terceiro alvo, o horrível empresário português, que vive da protecção e do favor do Estado, foge do risco e não cria verdadeira riqueza. Dantes também se perorava muito contra os funcionários públicos, que hoje, protegidos pelo número, gozam de uma certa imunidade”.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Memorabilia 1960 Cartão de Jorge de Mello a Ferreira Dias


“Estamos no Paiz da demagogia e da má língua. Parece que só isso conta. É espantoso, quanta energia se gasta em discutir coisas inúteis e crear boatos. Faz depois tanta falta para trabalhar”. 
Cartão de Jorge de Mello, CEO da CUF, a Ferreira Dias, Ministro da Economia em 1 de Junho de 1960

II Parte O empresário português segundo Vasco Pulido Valente




II Parte
Os empresários portugueses não se dissociam do fundo cultural comum, e que é o seu campo de acção natural, em que o Estado predomina e impõe as suas regras, gerando por um lado o desejo de protecção, e por outro, o favorecimento do medo e a submissão. «O medo move a Confederação da Indústria Portuguesa como o último empregado do último serviço do mais miserável ministério. O santo medo do patrão que faz de Portugal este país pacífico e ordeiro que o mundo admira», escreveu Vasco Pulido Valente. Tudo isto faz dele um ser mítico, uma espécie de unicórnio: «Cavaco disse constantemente na campanha que a primeira preocupação dele seria ajudar, promover e proteger essa criatura mítica “o empresário moderno português”, que um dia nos tirará das garras da miséria». O drama nacional é que há uma associação virtuosa entre empresários e o desenvolvimento económico, tanto mais que este «depende muito pouco do Governo e quase tudo de empresários que não investem ou, quando investem, não investem como deviam. Como vai o Eng. Sócrates, por exemplo, arranjar empresários que não existem? O Presidente supunha que a sua presença bastaria para os fazer brotar como cogumelos».

DIXIT Marca e negócio



Qualquer tonto pode fazer negócio, mas é preciso génio, fé e perseverança para criar uma marca.
David Ogilvy

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

LIDO Filmes para planos de carreira


Uma infografia com dez sugestões de filmes “para aguçar a criatividade” e traçar planos de carreira mais ousados e que vai do premiado Argo, com o Globo de ouro para melhor filme, aos  filmes de Pedro Almodovar passando pelo 007 numa selecção de dez filmes. Uma forma de ver filmes a pensar na carreira.

http://exame.abril.com.br/carreira/noticias/os-filmes-para-pensar-fora-da-caixa-no-trabalho

O empresário português segundo Vasco Pulido Valente I



 Nos seus textos de opinião, o historiador Vasco Pulido Valente utiliza a sua visão de longo prazo e o conhecimento adquirido por ofício para registar, às vezes, como se fosse um antropólogo cultural, a visão social, política, histórica, axiológica e cultural do empresário. Mais do que a sua opinião, estas reflexões funcionam como um jogo de espelhos. Parte do pressuposto de que no fundo cultural comum de Portugal predominam ainda os valores de cultura camponesa pobre: “falido, estagnado e arcaico, Portugal precisa que o levem à força e à má cara para o mundo real, que os portugueses detestam. Os valores de uma cultura camponesa pobre, como a nossa, são a segurança e a rotina. Nada mais contrário ao que nos propõem: a iniciativa, a competição, o risco”. Num outro texto, reforça e invoca a ausência de uma revolução industrial que assim preservou: “uma cultura camponesa, ainda hoje visível no típico empresário indígena, ou, por exemplo, em hábitos quase universais, como o de ignorar o moderno mecanismo chamado “relógio”.” Por isso não surpreende que “como não temos empresários, ou os que há são poucos e maus, é difícil que comecem a aparecer grandes quantidades de empresários bons”.
Filipe S. Fernandes

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

ESPELHO O crescimento das economias emergentes em 2013


Teorias e ideias

El riesgo de creerse invulnerable” faz uma análise do peso das novas economias emergentes mas não deixa de frisar que “apesar da liderança no crescimento mundial as economias emergentes necessitam de reformas tanto como os países desenvolvidos”. Por sua vez “Sostén de la economía mundial”, assinada por Federico Steinberg, Universidade Autónoma de Madrid, é mais optimista e aposta  que vai prosseguir “o processo de convergência e mudança estrutural a economia mundial está a experimentar desde há pelos menos 20 anos”.
http://economia.elpais.com/economia/2013/01/11/actualidad/1357933708_360202.html

LIDO Toyota bate GM


Toyota volta a ser o maior fabricante mundial de automóveis com vendas de 9,7 milhões, superando a General Motors que vendeu 9,3 milhões. Em 2011 a empresa de Detroit tinha voltado a ser o maior construtor de automóveis do mundo. As vendas da empresa japonesa cresceram 22% enquanto as da GM se ficaram pelos 3%.

elpais.com

Caça aos salários dos gestores


Há questões mais importantes do que ir directamente aos salários dos gestores, como se isso fosse a única causa de todas as fraudes e da má gestão, há outras formas de construir um novo paradigma

Em tempos idos e já quase esquecidos, em pleno Janeiro de 1975, numa grande empresa portuguesa o poder sindical instou os quadros superiores e de gestão a recusar os prémios, então conhecidos como os envelopes de gratificação, em nome de um certo igualitarismo. Como os gestores, devido à pressão social, se inclinassem a recusar os prémios, o principal accionista da empresa decidiu despedi-los com um argumento de peso: “Se não são capazes de defender os seus próprios interesses dificilmente defenderão os interesses dos accionistas”. Já nessa altura predominava o valor para o accionista como determinante último da gestão. Claro que não foram despedidos e o accionista é que acabou por ficar sem a empresa. Na geometria variável dos interesses que os gestores têm de atender surgem sempre novos constrangimentos, que fazem parte do seu job e é para isso que se ‘inventaram’ os gestores.
Agora é a publicitação das remunerações dos executivos de empresas cotadas em Bolsa ou em que o Estado detenha uma participação, que é feita em nome da transparência e de uma moral retributiva isenta de ganância e cupidez, é o Santo Graal de um mundo mais perfeito nas empresas e na sua relação com o mundo. Acredita-se que, na sua bondade, esta regulação evite os excessos. A medida é positiva, no entanto, era bom que não se esquecessem os chamados efeitos perversos.
Em 1993, os reguladores federais norte-americanos obrigaram as empresas a revelar pela primeira vez as remunerações de topo. Como refere Dan Ariely, em Previsivelmente Irracional, “a ideia era de que, depois destes serem públicos, as administrações teriam mais relutância em conceder ordenados e benefícios escandalosos. Esperava-se assim parar o crescimento das indemnizações executivas, que nem a regulação, a legislação ou a pressão dos accionistas soubera conter”. De facto em 1976 um CEO médio ganhava 36 vezes o salário de um trabalhador médio e em 1993 era 131 vezes mais. E o que aconteceu depois da legislação? Em 2008, o CEO médio ganha 369 vezes mais do que um trabalhador médio. Mas, como conclui Dan Ariely, “em vez de provocar vergonha, cada nova indemnização escandalosa incita os restantes CEOs a exigir mais ainda”. Até porque o que comanda os mercados é o valor para o accionista não é o interesse da empresa ou dos stakeholders.
Este exemplo de Dan Ariely mostra que não há um kit mágico de soluções para estes problemas. Colocar-se a questão dos pacotes de remuneração dos gestores como a pergunta chave para o modo como queremos entender e fazer funcionar as empresas no futuro torna a discussão meramente populista.
Como dizia recentemente ao Financial Times, o Prémio Nobel da Economia, Edmundo Phelps, “cometemos um erro se pensamos que basta o retorno às regras do bom governo das empresas” para se iniciar um novo caminho depois desta catarse. Há outras questões mais decisivas. E estas são sobretudo: “que tipo de sistema financeiro interessa”, “como é que se pode incentivar a inovação nos negócios”, “como é que feita avaliação dos gestores (por que não ser objecto de relatório a divulgar pelos accionistas e restantes stakeholders?)”, “como é que é feita a avaliação da performance das empresas e das instituições”? Enfim não recalcar nem divinizar o dinheiro.
Filipe S. Fernandes

DIXIT Chefias


Onde é que tem mais probabilidades de encontrar pessoas com uma menor diversidade de experiências, com o maior investimento no passado e com a maior reverência pelos dogmas da indústria? No topo.
Gary Hamel 

domingo, 13 de janeiro de 2013

A hegemonia do discurso dos negócios


Facto interessante é a disseminação do discurso dos negócios aos universos políticos, culturais e sociais.
A linguagem é um bom guia do espírito do tempo que passa, tanto no que revela como no que oculta. Funciona como espelho e manifestação do inconsciente. Como é o caso hoje da disseminação da linguagem dos negócios aos universos políticos, culturais, pessoais e sociais, o que também se explica pela profunda e complexa crise que atravessamos.
Este discurso que os protagonistas dos negócios têm sobre a realidade, a sua mundividência, desenha uma nova relação de forças e mostra, com grande evidência, o que o semiólogo Tzvetan Todorov escreveu: “tirania neoliberal caracteriza-se por uma concepção de a economia como uma actividade inteiramente separada do social, que deve escapar ao controlo político”.
De facto, os últimos tempos têm sido férteis em expressões que revelam que há um universo económico-financeiro que se permite olhar para o espaço em volta e ignorar a realidade social mais crua como, por exemplo, o desemprego. Ouça-se António Viana Baptista, segundo o Jornal de Negócios (19-3-2012), sobre a entrada de investimentos estrangeiros: “Não vão criar muitos empregos. Vamos viver um período de desemprego elevado durante muito tempo, e isso não quer dizer que não se tenha êxito”. O responsável pelo Crédit Suisse ibérico deu o exemplo da Irlanda que tem uma taxa de desemprego alta, mas criou “um sistema fiscal bastante melhor”.
Há mais exemplos desta linguagem em que o negócio e o resultado económico parecem estar acima de qualquer outro interesse, como se o facto de o investimento ser privado o ungisse de bondade e, por sua vez, o interesse público (que cabe ao Estado defender) fosse uma coisa nefasta. Muitas vezes, este discurso surge com uma rudeza de linguagem que parece inibir qualquer pensamento crítico e alternativo. Escute-se Isabel Vaz, CEO da Espírito Santo Saúde, numa citação retirada do Negócios Online de 16-3-2012: “Não precisamos de nada do Estado, não preciso que o Estado me dê doentes. Só preciso que o Estado não me chateie”. Sobre este à vontade na linguagem refira-se a expressão de António Borges: “Há uns investidores interessados em investir em Portugal e investir umas 'massas' valentes”. Mas não é a só aparência e a aspereza de discurso directo – a chamada linguagem terra a terra- que está em causa porque não se trata de responder a uma questão prática. A leitura que a linguagem dos negócios faz da realidade e o modo como se sobrepõe enquanto modelo explicativo a todos os outros discursos, faz dela uma linguagem hegemónica e dominante.
Filipe S. Fernandes

DIXIT Os americanos as qualidades humanas



«Os americanos acham que todas as qualidades humanas são mensuráveis»
Ted Hughes, poeta inglês, que foi casado com a poetisa Silvia Plath

sábado, 12 de janeiro de 2013

Espanhóis confiam nas PME

As “Pequenas e Médias Empresas” surgem como as terceiras instituições de maior confiança para os espanhóis com uma taxa de aprovação de 89% e de desaprovação de 8%, segundo o Barómetro Metroscopia sobre a Confiança Institucional realizado entre 17 e 19 de dezembro de 2012, sendo superadas apenas pelos “Científicos” e pelos “Médicos”. Por sua vez as “Multinacionais” aparecem com uma taxa de aprovação de 29% e de desaprovação de 66% e os “Bancos” estão quase no fundo da tabela com uma taxa de desaprovação de 88% e de aprovação de 11%.

ESPELHO A reindustrialização segundo a McKinsey


Teorias e ideias

Nestes tempos de discussão sobre a re-industrialização, “Manufacturing the future: The next era of global growth and innovation” é um extenso e profundo relatório do McKinsey Global Institute, que procura compreender as linhas que vão estruturar a indústria no mundo na próxima década. Foca sobretudo três pontos. A mudança do papel da indústria, em que nas economias avançadas tende a promover mais a inovação, a produtividade e o comércio do que o crescimento e o emprego. Depois a indústria tem o que chama vários e diferentes drivers de sucesso. Finalmente o crescimento das classes médias no mundo e as preocupações ambientais traduzem-sem em novas oportunidades industriais.
http://www.mckinsey.com/insights/mgi/research/productivity_competitiveness_and_growth/the_future_of_manufacturing

DIXIT Criatividade vs inovação



Quer ser criativo? Escreva um romance. As empresas não precisam de criatividade. Precisam de inovação.
Larry Ellison, presidente da Oracle Corporation

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

LIDO Facebook cobra 100 dólares para enviar mensagem a Zuckerberg


Uma nova, e curiosa, funcionalidade foi identificada pela equipe do site americano Mashable no Facebook: quem quiser enviar uma mensagem para a caixa de entrada do criador da rede social, Mark Zuckerberg, deverá pagar a “bagatela” de 100 dólares.Rede social pode estar testando função para cobrar pelo envio de mensagens privadas para usuários que não estão incluídos no grupo de amigos do perfil
http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/facebook-cobra-us-100-para-enviar-mensagem-a-zuckerberg

PISTAS Entrevista de emprego em 3 minutos


Práticas de gestão

Entrevista de emprego em 3 minutos
Neste texto defende-se que a ideia de contratar alguém em 3 minutos – o tempo que dura uma canção ou o elevador entre 20 andares – não é “absurda como parece” e surge na senda de um post publicado por Amy Rees Anderson no seu blogue na Forbes em que sugeria o speed interviewing.
Os modelos em que se baseia são o denominado Elevator Pitch, que tanto agrada aos empreendedores, o programa televisivo Ídolos, a versão nacional do American Idol e speed dating relacionado com os encontros amorosos.

http://www.thegrindstone.com/2012/05/11/career-management/are-you-ready-for-speed-interviewing-neither-are-we-831/
http://blogs.forbes.com/amyanderson/